A Sérvia e o Kosovo anunciaram esta sexta-feira em Washington a normalização dos laços económicos, numa iniciativa patrocinada pelos EUA que inclui a transferência da embaixada sérvia em Israel para Jerusalém e o reconhecimento do Estado judaico por Pristina.
Após dois dias de reuniões com responsáveis da administração norte-americana — mediadas por Robert O’Brien, conselheiro para a segurança nacional dos EUA e o emissário norte-americano Richard Grenell –, o Presidente sérvio, Aleksandar Vucic, e o primeiro-ministro kosovar, Avdullah Hot, concordarem em cooperar em diversos setores económicos para atrair investimento e criar empregos.
O anúncio da Casa Branca fornece ao Presidente Donald Trump uma vitória diplomática a menos de dois meses das eleições presidenciais de novembro, para além da intenção da sua administração em contribuir para o reforço da posição internacional de Israel, que declarou Jerusalém a capital “indivisível” do país apesar dos protestos palestinianos e internacionais.
“É de facto histórico”, disse Trump, ladeado pelos dois líderes na Sala Oval. “Tenciono visitar os dois países num futuro não muito distante”.
A decisão da Sérvia de transferir a sua embaixada de Telavive para Jerusalém constitui um sinal para os EUA e Israel.
A administração de Donald Trump reconheceu Jerusalém como capital de Israel no final de 2017 e instalou a sua embaixada nesta cidade em maio de 2018.
A Casa Branca tem encorajado outros países a adotarem a mesma atitude, mas foi muito criticada pelos palestinianos e muitos países europeus pelo facto de o conflito israelo-palestiniano permanecer sem solução.
O Kosovo, uma ex-república da Sérvia de maioria albanesa que autoproclamou a independência em 2008, tem uma população predominantemente muçulmana e nunca reconheceu Israel, como Israel também nunca reconheceu o Kosovo.
Estas decisões sobre Israel incluem-se nos esforços do Governo dos Estados Unidos para reforçar a posição internacional do Estado judaico, que permanece alvo de fortes críticas em diversos fóruns internacionais, incluindo nas Nações Unidas.
Recentemente, a administração Trump garantiu um acordo de normalização das relações entre Israel e os Emirados Árabes Unidos (EAU), que implicou o primeiro voo comercial entre Israel e os EAU, com os vizinhos Arábia Saudita e Bahrein a permitirem a passagem destes voos no seu espaço aéreo.
Outros Estados árabes, incluindo Sudão, Bahrein e Omã, têm sido apontados como países que podem em breve normalizar as relações com Israel.
O parlamento do Kosovo autoproclamou a independência da Sérvia em fevereiro de 2008, nove anos após a NATO ter desencadeado uma campanha de 78 dias de ataques aéreos contra a Sérvia devido ao conflito na sua antiga província entre o exército de Belgrado e os separatistas albaneses.
A maioria dos países ocidentais reconheceu a independência do Kosovo, mas a Sérvia e os seus aliados Rússia e China, e muitas dezenas de outros países, não o fizeram. O atual impasse entre Belgrado e Pristina tem constituído um dos principais fatores para a permanência de fortes tensões que impedem a estabilização da região dos Balcãs, após as guerras sangrentas da década de 1990 no decurso da desintegração da Jugoslávia.
“Não podemos aceitar qualquer documento que inclua a independência do Kosovo, e ponto final”, disse Vucic aos jornalistas após o primeiro encontro de quinta-feira na Casa Branca.
A Sérvia e o Kosovo já promoveram acordos de tráfego aéreo e rodoviário, o que poderá permitir o primeiro voo entre Pristina e Belgrado em 21 anos.
O novo acordo hoje anunciado incluiu diversas áreas de cooperação económica, quando empresários dos dois países balcânicos têm vindo a promover conversações sobre a forma de garantir investimentos à margem das prolongadas negociações políticas mediadas pela União Europeia (UE).
Vucic e Hoti deslocam-se na segunda-feira a Bruxelas para manter conversações com o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell e o enviado especial europeu para o diálogo Belgrado-Prisitina, Miroslav Lajcak.
A UE tem mediado há mais de uma década as conversações entre os dois antigos inimigos de guerra e as iniciativas paralelas dos EUA, apesar de focalizadas no desenvolvimento económico, têm sido encaradas com desconfiança por diversos responsáveis europeus.
A cimeira na Casa Branca estava originalmente prevista para junho, mas foi cancelada após o Presidente do Kosovo, Hashim Thaçi, que deveria dirigir a delegação kosovar, ter sido indiciado por crimes de guerra por um tribunal internacional.