Igor Khakhyn, o cidadão russo supostamente com ligações ao Kremlin, que recebeu cidadãos refugiados ucranianos em Setúbal, é o presidente de uma das associações pró-russas que, como avançou a Renascença a 24 de março, eram sugeridas na página oficial do Alto Comissariado para as Migrações (ACM) para o acolhimento destas pessoas que fugiram da guerra no Leste da Europa.
A polémica foi relançada esta sexta-feira, mas o Alto Comissariado para as Migrações estava alertado há muito sobre esta denuncia, sublinha à Renascença Pavlo Sadokha. O presidente da Comunidade Ucraniana em Portugal diz que, além da Câmara de Setúbal, há relato de casos noutros locais, como Gondomar, Aveiro ou Albufeira.
“O Igor Khakhyn é presidente da Associação Edintsvo, que funciona em Setúbal e foi denunciada na altura na Rádio Renascença como uma das organizações recomendadas pelo Alto Comissariado das Migrações para receber refugiados ucranianos no site do Alto Comissariado das Migrações”, afirma Pavlo Sadokha.
O representante associativo explica que, depois desta denúncia, encontrou-se com a alta comissária para as Migrações, Sónia Pereira.
“Dei conhecimento sobre estas organizações, incluindo a dirigida pelo Igor Khakhyn e a resposta foi: ‘OK, nós vamos ver o que podemos fazer, porque é preciso mudar a lei, é preciso ver se esta organização é realmente ucraniana ou russa’. Não foi uma resposta clara de que o Alto Comissariado vai deixar de recomendar refugiados ucranianos a organizações pró-russas”, revela Pavlo Sadokha.
O Alto Comissariado acabou por retirar da sua página oficial na internet as associações denunciadas pela Comunidade Ucraniana em Portugal, mas agora surge a notícia de que apoiantes de Moscovo estão envolvidos no processo de acolhimento em Portugal.
“Na minha opinião, o Alto Comissariado das Migrações tinha que fazer um alerta aos refugiados ucranianos que existem em Portugal associações ligadas à embaixada russa. Já muitos ucranianos passaram pelas mãos destas organizações pró-russas em Portugal. Eu espero que o Governo português investigue estes casos”, sublinha Pavlo Sadokha.
Questionado pela Renascença, Pavlo Sadokha diz que há mais casos de ucranianos a serem acolhidos e interrogados por associações pró-Rússia. “Há muitos. Há em Gondomar, Aveiro, Albufeira… São organizações que embora não estão referenciadas como russas, mas fazem parte das redes de uma agência russa pró-Putin e de um associação”, adverte.
A 24 de março, a associação presidida pelo russo Igor Hachen já era uma das que estavam referenciadas pelo ACM para o acolhimento de refugiados ucranianos.
Na altura a Renascença questionou a alta comissária sobre o assunto. Sónia Pereira estava a par das suspeitas.
"Aquilo que nós explicámos à senhora embaixadora da Ucrânia foi que o Alto Comissariado para as Migrações faz uma avaliação meramente técnica das atividades desenvolvidas pelas entidades em prol da integração dos refugiados em Portugal. Nós não fazemos nenhuma avaliação política da atividade das associações", declarou.
Câmara de Setúbal pede investigação
A Câmara de Setúbal vai pedir uma investigação ao caso dos refugiados ucranianos que, alegadamente, foram recebidos pelo pelo antigo presidente da Casa da Rússia e pela mulher, funcionária do município de nacionalidade russa.
Em resposta a uma notícia avançada esta sexta-feira pelo jornal “Expresso”, a autarquia anunciou que vai “solicitar ao Ministério da Administração Interna que adote, de imediato, os necessários procedimentos no sentido de averiguar a veracidade das suspeitas”.
A Câmara de Setúbal “manifesta total disponibilidade para prestar toda a informação necessária.
“Face à situação criada, a Câmara Municipal, retirou do acolhimento de cidadãos ucranianos a técnica superior citada na notícia até ao total e inequívoco esclarecimento desta situação, adianta o comunicado.
A secretária de Estado da Igualdade e Migrações enviou esta sexta-feira ao Alto Comissariado para as Migrações (ACM) um pedido de esclarecimento na sequência da notícia de que refugiados ucranianos estão a ser recebidos em Setúbal por russos pró-Putin.
Em comunicado, o gabinete da secretária de Estado Sara Guerreira indica que o pedido foi dirigido à alta-comissária, Sónia Pereira, com caráter de urgência.