É um projeto da autoria do arquiteto Francisco Pólvora que levou quase dois anos a ser pensado. A obra de remodelação dos espaços interiores do Teatro Nacional D. Maria II (TNDM) vai decorrer ao longo do ano de 2023 e vai obrigar ao encerramento do edifício.
Durante um ano, o Nacional não vai parar e aposta em levar teatro ao país, a salas de “norte a sul, regiões autónomas incluídas”, explica o diretor Pedro Penim na apresentação do projeto esta segunda-feira.
São vários os espaços que serão alvo de obras de remodelação. Desde a bilheteira à livraria, passando pelos até aos espaços de trabalho da equipa, indicou em conferência de imprensa Cláudia Belchior, da administração do TNDM.
O projeto idealizado por Francisco Pólvora, do atelier BFJ Arquitetos, prevê, por exemplo, a transformação do espaço de ensaios situado no sótão do edifício em espaço de trabalho, com um jardim de inverno.
“A nossa proposta tira partido deste espaço”, explica o arquiteto que pensou uma “maior abertura à cidade de Lisboa” para este teatro situado no Rossio. Entre as mudanças está programada a abertura de janelas, não só para permitir maior ventilação do interior do teatro e das zonas de trabalho, como uma “maior transparência” do teatro.
Serão criadas montras, onde estará em exposição o guarda-roupa, que ficarão visíveis nas janelas que dão para a fachada do Rossio. Até aqui algumas dessas janelas são “cenário”, revela o arquiteto, e serão abertas depois da obra.
Quanto à sala principal, a sala Garrett, Francisco Pólvora refere que a “preocupação é que a intervenção seja o mais invisível possível”. Haverá alterações em algumas calhas técnicas de iluminação cénica, será melhorada a “ventilação e substituídos alguns revestimentos”.
A preparação deste trabalho feito em extremo diálogo com a equipa do teatro contou com a colaboração da Faculdade de Arquitetura de Lisboa. Presente na apresentação esta segunda-feira esteve a ministra da Cultura. Graça Fonseca explicou que a obra está orçada em 9,8 milhões de euros e prevê a aplicação de verbas no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para a cultura.
“Vivemos ainda ecos de um período difícil e devemos assumir este como um momento de mudança positiva”, considerou Graça Fonseca. A ministra destacou por isso o PRR como “o maior estímulo” para a cultura, “um pilar fundamental de um modelo de desenvolvimento para o país.”
As verbas serão aplicadas, por um lado, na salvaguarda do edifício classificado, por outro, na promoção da digitalização. Além do D. Maria II, as verbas do PRR serão também aplicadas em dois outros teatros, nomeadamente o Teatro Nacional de São Carlos e o Teatro Camões, indica a ministra à Renascença.
Interrogado sobre o encerramento do teatro, o recém-chegado novo diretor, Pedro Penim, considerou este o seu “batismo de fogo”. Diz estar apostado em levar teatro clássico, mas não só a outros palcos, usando em parte o trabalho já desenvolvido pelo TNDM na Rede Eunice AGEAS e no projeto Próxima Cena que leva teatro a zonas de baixa densidade populacional.
Sobre o facto de Lisboa, durante o ano de 2023 não ter teatro no Nacional, Pedro Penim foi parco em explicações, apenas referiu que não seguiu a tentação de se apresentarem em outros teatros da cidade.
Em entrevista à Renascença, no final da conferência de imprensa, Pedro Penim disse que as obras, sobretudo nos bastidores, não serão muito visíveis para o público. “Quem estará sentado na sala se calhar não se aperceberá, verá estes damascos um pouco mais bem conservados, mas sentir-se-á num espaço mais seguro, as equipas terão melhores condições de trabalho e isso terá implicações na maneira como o teatro funciona”, referiu.
2023 é um “desafio gigantesco” classifica Penim. “É inédito o teatro fechar, mas a programação continuar da mesma forma, com essa condicionante de não estar em Lisboa, mas sim pulverizada por todo o país”, indica o diretor que com isto conclui que o TNDM irá “cumprir uma das grandes missões que é o TNDM ser verdadeiramente um teatro nacional que se espalha por todo o território”.