Bruno Paixão garante nunca ter sido corrompido, seja pelo Benfica ou por outro clube.
Na segunda-feira, a CNN e a TVI adiantaram que o antigo árbitro e o Benfica estão sob suspeita de corrupção desportiva, devido a pagamentos efetuados ao antigo árbitro por parte de uma empresa informática ligada ao Benfica e implicada no caso "Saco Azul". Esta empresa, detida por José Bernardes, arguido no processo, terá servido de "saco azul" (forma encapotada de suborno) do Benfica.
"Nunca fui corrompido. Estou falido. Levem o meu computador para o analisarem", afirma Bruno Paixão, em entrevista ao semanário "Expresso", publicada esta sexta-feira.
"Da única vez que me aliciaram, denunciei o caso à PJ [Polícia Judiciária] e acabou tudo arquivado", acrescenta.
Bruno Paixão admite que recebeu pagamentos da empresa "Best For Business", mas garante que se limitou a "cumprir um contrato".
O antigo árbitro diz estar "falido" e sublinha que está à vontade para que as autoridades "levem o computador pessoal para análise".
Sobre os negócios com a empresa de José Bernardes, arguido no processo "Saco Azul", Paixão conta como conheceu o empresário.
"Investi nos cursos da ISO 9001 [certificados de qualidade] como consultor. Distribuí currículos por várias pessoas e, a dada altura, em 2013, sou contactado pelo José Bernardes para uma entrevista. Apresentou-me a empresa informática, a 'Best For Business', que na altura era em Miraflores. Era uma boa oportunidade para me lançar na área da qualidade, certificando as empresas do Magnetic Group. Fiz um contrato de trabalho de nove meses, como consultor de qualidade, entre novembro de 2013 e agosto de 2014", relata.
Árbitro nega, Benfica distancia-se
Em declarações à CNN e à TVI, Bruno Paixão negou quaisquer irregularidades e referiu que os ditos pagamentos se referem a "um serviço de controlo de qualidade" que teria prestado no âmbito de uma atividade paralela à de árbitro, de certificação de qualidade de empresas.
"Conheço José Bernardes, e, aqui há uns anos, durante alguns meses, tentei implementar um sistema de controlo de qualidade, o ISO 9001, na empresa 'Best for Business'", referiu o ex-árbitro, sublinhando que o facto de ter prestado serviços a uma empresa implicada num caso de justiça com um clube de futebol não passou de mera coincidência
Em comunicado oficial, o Benfica sublinhou que, "no âmbito do referido processo, nunca a Benfica SAD ou os seus representantes legais foram confrontados com quaisquer factos que envolvessem o nome do Senhor Bruno Paixão e/ou quaisquer acusações de corrupção desportiva".
"As diligências de inquérito foram já concluídas, aguardando o processo apenas o despacho final que põe termo ao inquérito. (...) Os representantes legais da Benfica SAD foram, nos termos da lei, confrontados exclusivamente por factos respeitantes a indícios de fraude fiscal, tendo o Ministério Público abandonado a tese inicial de branqueamento de capitais", pode ler-se no site do clube.
Na quinta-feira, contudo, o Conselho de Disciplina (CD) da Federação Portuguesa de Futebol anunciou ter instaurado um processo de inquérito para apuramento de “eventuais ilícitos disciplinares” envolvendo Bruno Paixão.
De que trata o processo "Saco Azul"?
Em causa, no processo "Saco Azul", está o pagamento de 1,9 milhões de euros do Benfica à empresa referida, por serviços de consultoria fictícios.
Além de José Bernardes, também são arguidos Luís Filipe Vieira, ex-presidente do Benfica, os administradores da SAD encarnada Miguel Moreira e Domingos Soares de Oliveira, e a própria Benfica SAD. Todos são suspeitos dos crimes de fraude fiscal e branqueamento de capitais.
A TVI adianta que as informações obtidas sobre Bruno Paixão foram incluídas noutra investigação ao Benfica por suspeitas de corrupção desportiva, que nasceu do chamado "caso dos e-mails" e que também já incorporou o caso dos "vouchers" e o processo "Mala Ciao".