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O arcebispo de Évora pediu esta quarta-feira a “auscultação do povo português” sobre a eutanásia e o suicídio assistido. D. Francisco Senra Coelho presidiu a uma eucaristia, em Évora, para celebrar o dom da vida.
“É certo que os deputados são chamados a pronunciarem-se sobre assuntos que não constam dos seus programas eleitorais, mas a eutanásia e o suicídio assistido não são assuntos correntes”, alertou o prelado, recordando que “alguns dos grandes partidos” nem sequer incluíram o tema nos seus programas, “apenas para evitar a tensão provocada por este debate”.
Na homilia, na igreja do Espirito Santo e perante várias dezenas de cristãos, o arcebispo de Évora considerou que, embora a democracia representativa permita aos deputados legislar sobre a eutanásia, “eles próprios excluíram-se e escusaram-se da autoridade politica para tal, ao evitar estes temas”, no período de campanha eleitoral.
Face a esta situação, “só há uma resposta coerente”, diz o prelado, e passa por “uma auscultação do povo português, seja na próxima campanha eleitoral ou num referendo”, frisou.
Numa reflexão de carater social e política, D. Francisco Senra Coelho considerou “espantoso” que se venha agora propor uma morte digna, “num país onde muitos não têm habitação digna, um salário digno, e onde muitos outros continuam a ter que percorrer os caminhos da emigração”, em busca de melhores condições de vida.
Incisivo nas palavras, falou na existência de “muita eutanásia por antecipação”, que não é reconhecida como tal, mas “provoca a morte perante a própria vida”.
“A injustiça, a suspeita e a calunia não eutanasiam precocemente tantas vidas?”, questionou. “A eutanásia não é só quando se administra um produto para terminar com a vida de alguém”, observou, “mas é também quando se deixa um idoso abandonado, sem companhia, sem medicamentos, sem assistência”.
Para o prelado, a eutanásia pratica-se em demasiadas circunstâncias, como “na indiferença, no abandono, na solidão.”
Sem apontar o dedo a ninguém, mas deixando pistas para um debate alargado e profundo, D. Francisco manifestou-se a favor da alteração de algumas leis, quando isso for necessário para o bem comum, mas nunca daquelas que “protegem os alicerces como a vida, a dignidade da pessoa humana, a família, os indefesos”.
“Vivemos marcas muito fortes de indiferença e alheamento humanos e omissão”, notou, para mencionar a seguir que, “a banalidade da morte vai ao ponto dela ser equacionada.”
“A eutanásia e o suicídio assistido, agora e assim, não!”, concluiu o arcebispo D. Francisco Senra Coelho.