Portugal mantém a tendência decrescente no número anual de novos casos de tuberculose, embora a mediana de dias até ao diagnóstico permaneça elevada, o que significa menor grau de suspeição da doença.
Estas são duas das principais conclusões do Relatório de Vigilância e Monitorização da Tuberculose em Portugal, referente aos anos 2018/19, publicado esta quarta-feira pela Direção-Geral da Saúde, a propósito do Dia Mundial da Tuberculose, comemorado anualmente a 24 de março.
De acordo com o relatório, em 2019 foram notificados 1. 848 casos de tuberculose em Portugal, menos 38 que em 2018, correspondendo a uma taxa de notificação de 18,0 por 100 mil habitantes em 2019, e de 18,4 por 100 mil habitantes em 2018.
Também em relação aos novos casos se regista um decréscimo, tendo em conta que em 2019 ocorreram 1. 696 casos de tuberculose, enquanto em 2018 se tinham registado 1. 740. Já em termos de retratamentos em 2019, foram realizados 152, mais seis do que em 2018.
A taxa de incidência, ou seja, o número de novos casos, acompanhou a tendência decrescente, sendo em 2018 de 17,0 por 100 mil habitantes e em 2019 de 16,5 por 100 mil habitantes.
Nos últimos cinco anos, o decréscimo anual da taxa de notificação é de 3,9%/ano.
Segundo o relatório, apesar da “diminuição progressiva da incidência de tuberculose em Portugal, a mediana de dias até ao diagnóstico tem-se mantido elevada, situando-se nos, com 74 dias em 2019, quando comparada com 79 dias em 2018 e 61 dias em 2008, traduzindo a menor suspeição da doença, quer pela população quer pelos profissionais de saúde”.
O atraso no diagnóstico, segundo o relatório, relaciona-se em dois terços dos casos com o atraso do utente na valorização dos sintomas e procura de cuidados de saúde e em um terço dos casos com a resposta dos cuidados de saúde.
Lisboa e Vale do Tejo e região do Norte com o maior número de casos
A região de Lisboa e Vale do Tejo, com 22,1 casos por 100 mil habitantes, e a região do Norte, com 20,9 casos por 100 mil habitantes, permanecem como as regiões de maior incidência da doença.
Os homens continuam a ser mais afetados do que as mulheres (66,9% do total de casos notificados em 2019), especialmente na idade adulta. E a localização mais frequente da doença continua a ser pulmonar (74,1% em 2019 e 70,5% em 2018).
Em 2019, 79,9% dos casos notificados foram testados para VIH (88,1% em 2018) e 9% apresentavam coinfeção TB/VIH.
Na nota introdutória ao relatório, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, começa por destacar que a “tuberculose tem vindo a diminuir no país, tendo ultrapassado o limite definido como de baixa incidência”.
“A sua concentração nos grandes centros urbanos, a sua associação a dificuldades sociais e a diferentes comorbilidades torna-a mais difícil de abordar, necessitando de uma ação conjunta entre os diferentes níveis de cuidados de saúde e a população”, defende Graça Freitas.
Para a diretora-geral de Saúde, as novas estratégias de eliminação da tuberculose “acrescentam desafios de controlo da doença e a necessidade da sua prevenção, através da melhoria contínua no processo de investigação epidemiológica desencadeado a cada novo caso”.
Neste novo contexto, Graça Freitas considera que é prioritária “a identificação dos contactos e indivíduos vulneráveis, encaminhando-os para rastreio e iniciando o tratamento preventivo”.
O Programa Nacional para a Tuberculose para 2021-2022 define como prioridade a “reorganização da resposta assistencial à tuberculose, a otimização das plataformas de notificação, a melhoria da literacia em tuberculose na população em geral e nos profissionais de saúde e, por fim, a interligação entre as várias estruturas da saúde e sociais, permitindo uma resposta integrada”.
“Uma população informada terá, inevitavelmente, um papel decisivo no diagnóstico e tratamento precoce da doença, revelando-se fundamental para a concretização dos objetivos estabelecidos, caminhando assim para a eliminação da tuberculose em Portugal”, pode ler-se no relatório hoje publicado.
Apesar da tendência decrescente, a tuberculose mantém-se como uma das 10 principais causas de morte a nível mundial.