O presidente do PS, Carlos César, quer alargar os deveres de transparência a que os políticos estão sujeitos “aos que influem nas decisões ou forma opiniões que as condicionam”.
“Temos de continuar a reforçar todos os mecanismos de prevenção e combate à corrupção e avançarmos nas obrigações de transparência e no registo dos interesses dos decisores públicos, mas também dos que influem nas decisões ou formam opiniões que as condicionam”, disse no discurso que fez no arranque do congresso do PS, que decorre este fim-de-semana em Portimão. Um discurso em que enunciou as prioridades de reforma a que o PS se deve dedicar.
A obra feita “é muita”, mas o PS não se deve contentar e tem de adotar uma atitude reformista em vários setores, desde o combate à corrupção ao diálogo social, alertou o presidente do PS. “É essa sensação de uma obra incompleta que nos deve fazer inquietar e mover”, disse Carlos César, presidente do PS, no seu discurso de abertura, em que começou por arrancar um primeiro aplauso ao desejar as melhoras a Jorge Sampaio. Logo seguido por um aplaudo à saudação ao líder socialista e primeiro-ministro.
“A sua recente reeleição para o cargo, de forma tão expressivamente maioritária, mostra bem o apreço e a confiança que os socialistas, tal como a maioria dos portugueses, depositam nas suas qualidades, na sua competência e no seu discernimento, tão necessários nos momentos difíceis que ainda estamos a atravessar. Uma saudação, por isso, muito merecida e muito esperançosa nos tempos futuros. Com ele, com a sua liderança, iremos, certamente, continuar a vencer”, disse Carlos César para Costa que, em entrevista ao Expresso, publicada há duas semanas, deixou para 2023 a decisão sobre continuar a liderar o PS.
Depois foi elencando o que considera serem os sucessos da governação socialista, nomeadamente a forma como tem lidado com a crise pandémica. “São resultados, é certo, que seguem uma tendência geral, mas representam muito mérito dos portugueses e, para desconsolo do líder da oposição, muito mérito do governo do Partido Socialista!”, afirmou César, num remoque ao presidente do PSD. Já antes tinha feito outra referência ao dizer que no PS “não se vive uma paz fria”.
“Apesar de tudo isso, não nos iludamos. Há muito para fazer e muito para mudar”, continuou o presidente do PS, que passou a elencar o que devem ser as prioridades reformistas do partido, a começar pelo combate à corrupção e colocando em segundo lugar a necessidade de “aproximar mais eleitos e eleitores, melhorando a legislação eleitoral”. As alterações ao sistema eleitoral são um processo que exige maioria qualificada de dois terços dos deputados, o que só é possível com um acordo que junte PS e PSD.
“Temos de ir respondendo, aqui e ali, às aspirações dos portugueses, no sistema educativo como na maior eficiência do sistema judicial, em infraestruturas que satisfaçam, por exemplo, necessidades de mobilidade, de conetividade com o interior, de recuperação de zonas em perda populacional, de incremento das condições para a natalidade, e, sobretudo, promovendo a ultrapassagem dos bloqueios e dos desafios de eficiência e de sustentabilidade, com as reformas e as medidas que o país requer”, prosseguiu César.
Defesa da iniciativa privada e da concertação social
Ao longo do seu discurso, Carlos César foi dando sinais de como continua a ser um socialista moderado, contrário a ruturas que a esquerda muitas vezes pretende fazer. Primeiro, na saúde, ao defender a necessidade de cooperação com outros setores além do serviço nacional de saúde (SNS).
“Temos de continuar a ser ponderados e eficazes no combate à pandemia e, tal como o temos feito, a melhorar o SNS e – é importante que assim seja - a acolher outras iniciativas, operadores e prestadores de serviços que concorram para o mesmo fim”, disse.
Depois, na defesa da concertação social como espaço privilegiado para desenhar a modernização económica e laboral. “Temos de cooperar com os parceiros sociais para o acréscimo da produtividade, para a valorização dos salários e das relações laborais, para a proteção da segurança e da dignidade dos jovens e das mulheres no trabalho, ou seja, como tem dito o primeiro-ministro, para a modernização económica com direitos. Temos de agir para valorizar as diferenças, para defender os abusados, para proteger os direitos individuais, ou para colmatar necessidades básicas de acessibilidade como no caso flagrante da habitação condigna”, afirmou César, mostrando que a direção socialista continua a privilegiar o diálogo com patrões e sindicatos em vez da imposição legal de medidas laborais, como pretendem PCP e Bloco.
E mais à frente reforçou essa necessidade de diálogo com os parceiros sociais. “Temos de pugnar por uma cooperação que não se deve limitar à dos órgãos de soberania com as administrações autonómicas e locais; é uma cooperação construtiva, para a qual devem ser convocados os parceiros sociais, os investidores, as instituições educativas, culturais e científicas públicas e privadas, bem como os movimentos que, por todo o País, mobilizam cidadãos, seja para tarefas de solidariedade social seja na impulsão da inovação e do empreendedorismo”, afirmou Carlos César, para quem é preciso que o PS continue a assegurar “a estabilidade política e a cooperação interinstitucional, para que o País não desperdice as oportunidades que agora terá”.