Uma noite eleitoral sofrida terminou sem conclusões definitivas. Os candidatos à presidência do Brasil, Fernando Haddad e Jair Bolsonaro, irão a uma segunda volta no dia 28 de outubro.
A Renascença acompanhou a noite eleitoral na sede de campanha do Partido dos Trabalhadores, em São Paulo. Ouviu-se um grito quando os primeiros resultados saíram: Jair Bolsonaro liderava a corrida com 49% dos votos, mais nove pontos percentuais do que lhe davam as sondagens.
“Foi um susto imenso”, conta Nadi Oliveira, de 27 anos, quando o resultado quase dava a vitória a Bolsonaro no primeiro turno.
Durante a noite eleitoral, a vantagem do candidato de extrema-direita foi diminuindo - acompanhado de festejos dos apoiantes de Fernando Haddad - até acabar nos 47% dos votos. Haddad, por sua vez, terminou com 29% para grande alívio de quem estava do seu lado.
“O alívio de chegar ao segundo turno foi uma luta”, diz Nadi. “Pelo menos com o resultado com que estamos, nós chegamos ao segundo turno, vamos começar a segunda etapa dessa luta e vamos virar esse jogo para ter o Brasil feliz de novo”.
Também Leandro Ferreira, de 29 anos, ficou “esperançoso” com o resultado. Apoia o Partido dos Trabalhadores desde sempre - os seus pais eram metalúrgicos (como o ex-Presidente Lula da Silva) - e diz que o PT “salvou” a sua vida.
“Fiquei tão apreensivo que até estou com dores de barriga”, diz Leandro. “Mas tenho esperança que vamos conseguir tirar votos do ‘lado de lá’”.
“Trabalhámos muito para chegar onde chegámos que é ao segundo turno. Agora é como se fosse outra eleição. O resultado é bom porque a gente alcançou esse objetivo”, acrescenta.
A chegada ao segundo turno é uma boa notícia para os apoiantes do candidato do PT, apesar de as sondagens contra Bolsonaro apontarem agora para um cenário de “empate técnico”.
Bolsonaro ganhou, mas…
Por essa mesma razão, o resultado eleitoral foi recebido com muita desilusão e tristeza por parte dos apoiantes do candidato de extrema-direita.
“Não era o resultado que eu estava à espera, eu esperava que no mínimo nós tivéssemos 60% dos votos”, diz Daniel de Souza Santos, 23 anos. Daniel faz parte de um pequeno grupo de apoiantes de Bolsonaro, reunidos na Avenida Paulista em manifestação. Envolvidos em bandeiras brasileiras, estes apoiantes queimaram uma “urna eletrónica” em protesto contra o resultado.
Daniel reconhece que 47% dos votos não é um resultado bom mas que “a indignação do povo brasileiro é ainda maior.”
É o caso de Rose, que também está na Avenida Paulista em protesto. Incrédula e emocionada, diz estar muito desiludida com o resultado.
“Eu estou muito triste”, conta entre lágrimas, de mão dada ao marido e ao filho. “Eu esperava que o Bolsonaro ganhasse com 60% essas eleições. Eu não quero sair do meu país. Não quero que comunistas tomem conta do meu país”, diz.
Segundo as sondagens, Bolsonaro pode ter uma ligeira vantagem no segundo turno. No entanto, as pesquisas eleitorais também falharam em prever os imensos nove pontos percentuais que ganhou durante o voto.
O seu principal desafio é a transferência de voto dos outros candidatos derrotados para Haddad. Espera-se que, pelo menos, Ciro Gomes (12,5%), Marina Silva (1%) e Guilherme Boulos (0.58%) – este já confirmado - apelem aos seus apoiantes para votar em Fernando Haddad.
Mas a verdadeira vitória de Jair Bolsonaro já ficou decidida neste domingo, 7 de outubro. Vários apoiantes seus ou membros do seu partido (Partido Social Liberal) alcançaram inúmeros cargos de deputados e senadores.
O PSL foi o partido com mais candidatos eleitos a deputados estaduais (19%) e senadores (20%). A lista de cargos do PSL inclui o seu filho, Eduardo Bolsonaro, candidato a deputado federal.
Aconteça o que acontecer na presidência, o Congresso (formado pelos tais deputados e senadores) será conservador. É este o órgão mais importante na política brasileira.
Portanto, se Fernando Haddad vencer as eleições presidenciais no dia 28, terá pela frente um dos maiores desafios de qualquer político: governar sem maioria e com um congresso contra ele.