Durante a madrugada desta segunda-feira foi registado um sismo de 5,3 na escala de richter, um dos tremores de maior magnitude em Portugal Continental desde 1969. Apesar disto, a Proteção Civil não regista feridos ou danos graves nas infraestruturas. Depois de ser terem registadas, pelo menos, mais três réplicas do sismo, o governo pediu serenidade aos portugueses.
A Renascença ouviu, durante a manhã, o geólogo Paulo Henriques que não deixa de parte a possibilidade de novos sismos. Ainda assim, o especialista sublinha que "não há previsão sísmica" que permita garantir se e quando poderá acontecer. Questionado acerca da possibilidade de sismos de maior intensidade no país, Paulo Henriques considera que "nenhum país está verdadeiramente preparado para uma grande catástrofe" e por isso, pede também aos cidadãos que desempenhem o seu papel como "agentes de proteção civil".
Surpreende a intensidade 5.3 ou é algo para o qual todos temos que estar preparados?
Este evento é um evento não muito comum, na medida em que não são muito frequentes. Portanto, foi um evento de magnitude 5.3. É um sismo que, apesar de não ser muito frequente, o último grande sismo em Portugal continental terá sido o sismo de 1969, no entanto, sabemos pela memória histórica que têm ocorrido sismos de magnitude muito superior e extremamente devastadores. Portanto, uma vez tendo acontecido no passado, sabemos que podem voltar a acontecer no futuro, é importante que todas as pessoas tenham consciência disso, que não são apenas eventos teóricos, históricos, que aconteceram há 250 anos, podem acontecer, não se sabe quando.
É provável que possa acontecer a breve prazo ou é, sem dúvida, algo que é impossível prever?
Não há previsão sísmica ainda a esse nível. O que há é um estudo de período de recorrência, que no caso dos eventos de magnitude muito elevada em Portugal, não é fácil, porque são eventos muito pouco frequentes, portanto, o tempo teórico entre dois sismos, que não é fixo, indica que um sismo de uma magnitude muito elevada, como o sismo de 1755, deverá ocorrer, ou poderá ocorrer, com milhares de anos de intervalo, no entanto, não quer dizer que não ocorram dois em muito pouco tempo.
Deste sismo já foram registradas três réplicas, com baixa magnitude. Isto quer dizer que o pior já passou?
Normalmente, o que acontece é ocorrer um sismo, com uma determinada magnitude, poderá ser sentido, como o caso deste que foi sentido em Portugal Continental todo, em Espanha e em Marrocos, e a seguir a esse sismo podem ocorrer réplicas, sismos normalmente mais fracos, que resultam dos reajustes das tensões das forças na crosta terrestre. Por vezes, acontece outro tipo de fenómeno, não estou a dizer que é o que vai acontecer, é ocorrerem sismos de uma determinada dimensão e mais tarde ocorrer um sismo mais forte, ou seja, esses primeiros foram sismos premonitórios, estava a começar a haver alguma libertação de energia e mais tarde houve um sismo maior, e isto acontece por vezes, não é o mais frequente, o mais frequente é o contrário.
O país está preparado para uma grande catástrofe?
Eu acho que nenhum país está verdadeiramente preparado para uma grande catástrofe deste tipo, uma catástrofe que não avisa, não tem normalmente sinais prévios, ocorrem de uma forma muito rápida e podem ter efeito muito devastador, portanto, não estou a falar do sismo de hoje, que foi um sismo que à partida não terá causado danos por maior, poderá ter havido alguns objetos que caíram, ou uma fenda numa parede ou outra, mas em princípio não deve ter sido mais do que isto. No entanto, sismos mais destrutivos podem acontecer e sem evidências prévias.
Portugal está preparado para uma situação mais dramática?
Eu quero acreditar que sim, existem planos e esperemos que as autoridades consigam dar a melhor resposta possível. O que eu quero só reforçar é que ninguém se pode esquecer do seu papel como agente de proteção civil. Todas as pessoas são agentes de proteção civil, portanto têm a obrigação de saber como se devem proteger, têm a obrigação de saber como devem ter as suas casas, os seus bairros, a sua escola, preparados para reduzir acidentes ou reduzir os danos e vítimas quando acontecer. Porque não devemos ficar só à espera que as entidades façam o seu trabalho. As entidades fazem, mas todos nós temos o nosso papel a desempenhar.