Impacientemente à espera dos pirilampos
14-05-2020 - 06:40
 • Catarina Rocha*

Uma portuguesa pondera o azar de ter chegado às Filipinas meses antes do confinamento e sonha com o dia em que pode voltar para o escritório para partilhar tartes de coco fresco com os colegas.

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Kumusta? Magandang araw!

A 6 de janeiro deste ano chegámos ao país, com malas e bagagens cheias de planos e projetos. Três anos pareciam pouco tempo para realizar tudo o que há para fazer neste canto do Pacífico. E é por isso que dou por mim agora a contar os dias e quase as horas perdidos, a pensar no timing (im)perfeito de ter chegado em vésperas de pandemia às Filipinas, um país que nos recebeu de braços abertos e que está agora impacientemente à minha espera. Ou estarei eu impacientemente à espera dele?...

Estar agora (já fizeram 2 meses) confinada dentro de casa sem ver e conviver com este povo maravilhoso custa. Não poder mostrar à minha filha de quatro anos o rio que se enche de pirilampos mágicos ao anoitecer, ir a Donsol ver os tubarões baleia, conduzir até Los Baños ao fim de semana para um banho nas piscinas naturais e voltar a casa com duas Buko Pie (tarte de coco fresco) compradas na beira de estrada às simpáticas vendedoras e ainda a fumegar. Traria duas, porque uma é Pasalubong, para trazer para o escritório na segunda. É que aqui trazer uma lembrança de qualquer sítio onde se foi tem palavra própria no dicionário e é cumprido religiosamente por todos. A cultura filipina é centrada na família, no dar e conviver, por isso lhes custa tanto este interlúdio na vida... Mas a quem não custa, não é?

Estamos em pausa, mas o tempo não espera.

O verão não deixou de chegar, estamos agora no pico do calor e ele não perdoa. Manila, 36 graus à sombra e uma cidade silenciosa à espera da época das chuvas. Não se ouvem os Jeepneys a buzinar, não há poluição... que sossego, que límpido, mas isto é Manila? Não!

Manila é vida, caos, sinaleiros, gente... Percorro as ruas do centro (na única saída permitida, que é a visita ao supermercado) e vejo a beleza das ruas vazias numa cidade de 13 milhões, aventuro-me com a bicicleta pelos grandes cruzamentos... Num dia normal seria impensável!

Isto também é Covid, reencontrar a beleza nos pequenos momentos, nas pequenas liberdades e sonhar que em breve vamos ver os pirilampos.


*Catarina Rocha tem 39 anos e vive desde janeiro nas Filipinas, onde trabalha para uma companhia aérea