Morreu João Cutileiro, um dos maiores escultores contemporâneos portugueses. A Renascença já confirmou a notícia. João Cutileiro morreu no Hospital Pulido Valente, em Lisboa, com complicações provocadas por um enfisema pulmonar.
O escultor era irmão do embaixador José Cutileiro, falecido em maio do ano passado.
Évora foi onde escolheu para trabalhar e viver. Em 2016, cedeu todo o seu espólio à cidade “para poupar os meus filhos de ficarem com isto, palavra de honra”, confessava aos jornalistas.
“Fui amigo de José Almada Negreiros (filho) e o desgraçado nunca se levantou da morte do pai e isso é um horror. Ele recebeu um espólio e eu não quero que os meus filhos recebam o meu espólio senão não fazem mais nada com ele, mas não queria dizer isto em frente ao Dr. João Soares”, explicou anda João Cutileiro, a rir.
Nasceu, assim, a casa/atelier do artista que trabalhou o mármore, donde fez nascer figuras, paisagens e monumentos – alguns polémicos – por todo o país.
João Cutileiro é, por exemplo, autor do Monumento ao 25 de Abril, instalado no Parque Eduardo VII, em Lisboa. Concebida a partir do pedestal destinado à estátua equestre do Santo Condestável, a escultura é feita de fragmentos de pedra, por vezes em bruto, com um núcleo que se desdobra por outros pedaços de pedra, que se dispersam pelo espelho de água.
Em 1970, o escultor executa, em Lagos, a sua obra mais polémica: “D. Sebastião”, uma escultura para assinalar, em 1973, o IV Centenário do alvará da elevação de Lagos a cidade.
Mais tarde, para a Expo98, Cutileiro contribuiu com algumas figuras que podem ser vistas num lago perto do Meo Arena, do lado do rio Tejo.
Em 2016, quando o escultor tinha 77 anos, as famílias dos seis estudantes que perderam a vida no Meco pediram-lhe que criasse um memorial.
"Senti uma pena louca dos pais e dos jovens que ali morreram", afirmou na altura, acrescentando que nunca lhe tinham feito um pedido semelhante. Aceitou “de imediato”, fez o projeto e apresentou o orçamento às famílias, que aceitaram.
Durante a sua carreira, João Cutileiro frequentou, entre 1946 e 1950, os ateliês de António Pedro, Jorge Barradas e António Duarte, tendo feito a sua primeira exposição individual ("Tentativas Plásticas") em 1951, com 14 anos, em Reguengos de Monsaraz, onde apresentou esculturas, pinturas, aguarelas e cerâmicas.
Foi condecorado com a Ordem de Sant'Iago da Espada, Grau de Oficial, em agosto de 1983, e recebeu o Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Évora e pela Universidade Nova de Lisboa, este último, concedido em 2017.
Em 2018, João Cutileiro recebeu a medalha de mérito cultural, atribuída pelo Governo, numa cerimónia no Museu de Évora que serviu igualmente para formalizar a doação do espólio do escultor ao Estado português.