A Cruz Vermelha Internacional alertou, há dias, para o potencial efeito devastador do coronavírus nas populações e sistemas de saúde em África, se não forem tomadas medidas urgentes para conter a pandemia de Covid-19. O continente africano tem estado algo ausente do noticiário internacional sobre a pandemia, mas esta já atinge 48 países africanos, onde há mais de 5 mil infetados.
Desgraçadamente, é de prever que estes números subam muitíssimo. O primeiro caso detetado ao Sul do Sara foi conhecido a 28 de fevereiro. Mas a Organização Mundial de Saúde (OMS) informa que ali se regista agora “uma evolução extremamente rápida”. Angola está entre os 13 países africanos de prioridade máxima para a OMS, na luta contra o novo coronavírus, devido ao grande número de viagens de e para a China. Em Moçambique foi registado o primeiro caso de infeção na semana passada, como aqui já referi.
Se países ricos, como os EUA e os países europeus, têm enormes dificuldades em conter o vírus (veja-se a Espanha e a Itália, por exemplo), nos muito mais pobres países africanos essa parece uma ambição inatingível. Em vários desses países persistem guerras e conflitos, que matam numerosos africanos. E é ali praticamente impossível impor o distanciamento entre pessoas, bem como as medidas de higiene aconselháveis; lavar as mãos frequentemente é em África difícil, por causa do acesso limitado a água e sabão. Impor que as pessoas fiquem em casa, em grande parte de África seria condenar essas pessoas a morrerem à fome.
Existem dois ou três factos que permitem alguma, moderada, esperança. A maioria dos africanos ainda vive em zonas rurais, onde a propagação da pandemia será mais lenta do que nas cidades. E a média de idade da população em África está abaixo dos 20 anos – consta que os mais novos são menos vulneráveis ao vírus.
Não se vislumbra, na Europa e sobretudo nos EUA, qualquer disposição séria para auxiliar os países africanos nesta emergência. Mas há exceções. O Fundo soberano da Noruega, que é o maior fundo estatal do mundo, decidiu criar um fundo específico para ajudar os países pobres a enfrentarem a pandemia.
O Fundo soberano norueguês foi criado quando se descobriu petróleo no Mar do Norte. Os políticos noruegueses sabiam que esse benefício seria temporário (o que aconteceu, pois o petróleo do mar do Norte está a esgotar-se) e, em vez de gastarem todo o dinheiro, prudentemente decidiram pôr parte desse dinheiro de lado, para prevenir o futuro.
Assim nasceu o que é, hoje, o mais importante fundo soberano mundial. Que, honra seja prestada aos noruegueses, não esqueceu a solidariedade com as nações mais pobres, apesar de a forte baixa do preço do petróleo ter feito perder cerca de 15% do valor do seu Fundo soberano.