O antigo presidente do Sporting Bruno de Carvalho afirma que os jogadores do Sporting recusaram prémios de meio milhão de euros (ME), antes de jogos com Benfica e Marítimo, na temporada 2017/18 da I Liga de futebol.
Bruno de Carvalho foi ouvido no Tribunal de Instrução Criminal (TIC), em Lisboa, na fase de instrução do processo relacionado com os ataques à academia do Sporting, em Alcochete, cujos factos remontam a 15 de maio de 2018, e expressou estranheza pela recusa dos prémios de jogo.
"Havia o hábito de, antes dos grandes jogos e competições, falar de prémios de jogo. Antes dos jogos com Benfica e Marítimo, foram oferecidos meio milhão de euros aos jogadores, que recusaram. Nunca tinha visto, enquanto gestor, um funcionário recusar a possibilidade de ter um prémio", disse.
Em declarações que contaram com a presença de 23 dos arguidos do processo, entre os quais Nuno Vieira Mendes, conhecido por 'Mustafá', líder da claque Juventude Leonina (Juve Leo), Bruno de Carvalho confirmou que marcou presença numa reunião da claque, dois dias antes do ataque, durante "cerca de 15 minutos", na qual o próprio afirmou não ter havido "um fio condutor".
"Fui com André Geraldes e com o responsável de segurança. Não era habitual ir a reuniões da Juve Leo. Estive muito pouco tempo na reunião, cerca de 15 minutos. Não havia propriamente um fio condutor, senti que algumas pessoas presentes não estavam satisfeitas comigo. Só me perguntaram se podiam levar tarjas de incentivo para o estádio e respondi para fazer o que quisessem", expressou.
O arguido afirmou que, durante o seu mandato enquanto presidente do Sporting, nunca deu dinheiro às claques 'leoninas' e que se limitou a cumprir com o protocolo existente entre o clube e os grupos organizados de adeptos.
"Em cinco anos e meio, dei zero às claques. Nunca tiveram apoio financeiro. Nunca me envolvi em benefícios nenhuns, não havia proximidade nenhuma. Havia um protocolo, que o cumpri", sublinhou.
O antigo líder do Sporting explicou que, durante os processos disciplinares instaurados aos futebolistas do clube em abril de 2018, depois de um jogo com o Atlético de Madrid, para a Liga Europa, não violou "lei nenhuma" e que tal não levou a um aumento da animosidade dos adeptos contra os jogadores, mas sim contra a sua pessoa.
"Todos os jogadores concordaram em fazer uma reunião depois do jogo com o Paços de Ferreira e que nenhuma das partes iria emitir qualquer comunicado sobre o assunto. Para meu espanto, passada uma hora, os jogadores não cumpriram com o acordado. Não violei lei nenhuma, ao avaliar a situação entendi instaurar processos disciplinares. Não acho que tenha crescido a animosidade dos adeptos contra os jogadores, mas sim contra mim", explicou.
O debate instrutório terá lugar em 10 de julho, às 10h00, no Tribunal de Instrução Criminal, em Lisboa.
Em prisão preventiva mantêm-se 36 dos 44 arguidos no processo, incluindo o líder da claque Juventude Leonina, que viu em 06 de junho o Supremo Tribunal de Justiça negar-lhe uma providência de 'habeas corpus' (pedido de libertação imediata) e o ex-oficial de ligação aos adeptos Bruno Jacinto.
Em janeiro deste ano, o TIC do Barreiro declarou a especial complexidade do processo da invasão à Academia do Sporting, pedida pelo MP, o que, consequentemente, dilatou o prazo de prisão preventiva dos arguidos que se encontram presos.
Esta decisão teve como consequência direta o alargamento do prazo (até 21 de setembro) para que o TIC do Barreiro profira a decisão instrutória (se o processo segue para julgamento), sem que 23 dos arguidos sejam colocados em liberdade.
Os primeiros 23 detidos pela invasão à Academia e consequentes agressões a futebolistas, técnicos e outros elementos da equipa 'leonina' ficaram todos sujeitos à medida de coação de prisão preventiva em 21 de maio do ano passado.
Aos arguidos que participaram diretamente no ataque à Academia do Sporting, em Alcochete, em 15 de maio de 2018, o MP imputa-lhes na acusação a coautoria de crimes de terrorismo, de 40 crimes de ameaça agravada, de 38 crimes de sequestro, de dois crimes de dano com violência, de um crime de detenção de arma proibida agravado e de um de introdução em lugar vedado ao público.
Bruno de Carvalho, Mustafá e Bruno Jacinto estão acusados, como autores morais, de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 de ofensa à integridade física qualificada, de 38 de sequestro, de um crime de detenção de arma proibida e de crimes que são classificados como terrorismo, não quantificados. Mustafá está também acusado de um crime de tráfico de droga.