As alegações finais do julgamento do antigo presidente do Grupo Espírito Santo (GES), Ricardo Salgado, foram agendadas pelo coletivo de juízes para a tarde de 22 de outubro, dia em que ainda serão ouvidas três a quatro testemunhas.
A decisão do juiz Francisco Henriques foi recebida com algumas reservas pelos advogados de defesa do antigo banqueiro, Francisco Proença de Carvalho e Adriano Squilacce, que sugeriram a marcação de uma outra data, face à relevância das testemunhas agendadas para esse dia e o tempo associado às respetivas inquirições.
Em causa estão as audições de Jean-Luc Schneider, ex-administrador da ESFIL e colaborador do GES responsável pela operacionalização de transferências da conta bancária da ES Enterprises na Banque Privée Espírito Santo, Alain Rukavina, advogado e liquidatário da ES International, Ricardo Gaspar Carvalho, administrador e sócio da sociedade Shu Tian, e do padre Avelino Alves, que devia ter sido ouvido hoje e não compareceu.
Os representantes de Ricardo Salgado pretendiam que as alegações não começassem no dia previsto para estas audições e não descartaram mesmo a eventual chamada do antigo banqueiro para prestar declarações, cujo cenário é possível até ao arranque das alegações.
Em relação a esta quinta sessão do julgamento do processo conexo e separado da Operação Marquês, em curso no Juízo Criminal de Lisboa, os juízes ouviram apenas três das seis testemunhas inicialmente previstas, devido à ausência de Avelino Alves e à dispensa das outras duas testemunhas – Isabel Vaz, presidente executiva do grupo Luz Saúde, e a esposa do arguido, Maria João Salgado.
O primeiro a prestar depoimento foi o economista João Cardão, que trabalhou entre 2004 e 2014 no GES, inicialmente na empresa ES Resources e mais tarde na Rioforte, que, segundo a testemunha, “geria cerca de 3.000 milhões de euros de ativos e tinha cinco ou seis áreas de negócios em Portugal”, além de diversos negócios na América do Sul e África.
João Cardão esclareceu que, em ambas as entidades, respondeu sempre a Gonçalo Cadete, que foi também o responsável pela sua entrada no GES, e que nunca reportou a Ricardo Salgado, acrescentando que nunca conheceu pessoalmente o antigo líder do grupo.
De seguida, foram ouvidos dois colaboradores da empresa Margar: o encarregado de exploração agrícola Inácio Falcato e o contabilista Ricardo Charneca, que confirmou que a ES Enterprises passou em 2016 a deter 30% da sociedade agrícola gerida pelo empresário Henrique Granadeiro.
O julgamento prossegue na terça-feira a partir das 9h30 com as audições agendadas das testemunhas Carlos Silva, Yves Alain Morvan, Tereza Araújo e Pedro Brito e Cunha, sendo esta a última sessão prevista até 22 de outubro.
Ricardo Salgado responde neste julgamento por três crimes de abuso de confiança, devido a transferências de mais de 10 milhões de euros no âmbito da Operação Marquês, do qual este processo foi separado.