Depois de ter sido adiado sucessivamente ao longo dos anos, o foguetão da NASA está prestes a descolar numa missão histórica à lua, a missão Artemis I vai ser um teste de voo não tripulado à Lua que servirá de base às próximas missões humanas ao satélite natural.
A missão não vai aterrar na superfície lunar, vai orbitar à volta da Lua e voltar depois para a Terra, mas a viagem servirá para perceber se as tecnologias desenvolvidas nos últimos anos para voltar a levar humanos para a superfície da Lua são seguros.
Trata-se de um primeiro teste que vai interligar diferentes sistemas de exploração do espaço: a Oríon, o Space Launch System (SLS) e os sistemas terrestres da NASA no Centro Espacial Kennedy, na Florida.
Se o lançamento for bem-sucedido, depois de circundar a Terra, o foguetão, do qual só restará no fim o módulo superior, dará o derradeiro impulso que posicionará a Orion na trajetória da Lua aproximadamente hora e meia depois da descolagem.
Se tudo correr como planeado, é expectável que a cápsula Orion, que em missões posteriores deverá transportar astronautas, regresse à Terra 42 dias depois.
Para o caso de o lançamento ter de ser adiado, devido a problemas técnicos ou meteorológicos, foram já pré-definidas outras janelas de oportunidade, 2 de setembro às 17h48 ou 5 de setembro às 22h12.
Uma viagem sem tripulação
Nesta viagem, porém, não haverá humanos a bordo, mas sim três manequins de alta tecnologia: Helga, Zohar, e Moonikin Campos, que vão testar a forma como o corpo humano responde às viagens espaciais.
Helga e Zohar foram desenvolvidos para medir os efeitos da radiação nos corpos de mulheres no espaço, e Moonikin vai ocupar o lugar do comandante para avaliar o quão acidentada pode ser a viagem à Lua para os futuros tripulantes humanos.
Embora estes manequins possam não parecer particularmente impressionantes, desempenharão um papel fundamental na construção de um novo caminho para a Lua, para, eventualmente, enviar astronautas para Marte.
Helga e Zohar, por exemplo, são feitos de materiais que imitam os ossos ou órgãos humanos, bem como mais de 5.600 sensores e 34 detetores de radiação, uma vez que o elevado nível de radiação no espaço gera a preocupação de que os futuros astronautas possam enfrentar um risco acrescido de cancro, especialmente se viagens espaciais se tornarem mais longas.
Para avaliar o impacto da radiação, Zohar usará um colete de proteção AstroRed, que está a ser avaliado como potencial proteção, e Helga não usará colete, o que permitirá à NASA estudar as diferenças entre ambos.
Os manequins serão ainda acompanhados por um viajante inusitado: um boneco da Ovelha Choné. O anúncio foi feito pela Agência Espacial Europeia (ESA), que desenvolveu o Módulo de Serviço Europeu da ESA para a Oríon.
O futuro da exploração lunar
Artemis é a próxima geração de missões lunares e visa ambições mais amplas da NASA para a exploração lunar.
Com o programa lunar Artemis, a NASA espera “estabelecer missões
sustentáveis” na Lua a partir de 2028 com o intuito de enviar
posteriormente astronautas para Marte. A partida para estas missões
lunares ou para Marte será feita de uma estação espacial a instalar na
órbita da Lua, a Gateway.
A missão também inaugura as bases para as duas próximas missões no programa: Artemis 2, que está programado para enviar humanos numa viagem semelhante à volta da lua em 2024, e Artemis em 2025. Assim, toda a investigação desenvolvida para a Artemis I - incluindo os manequins Helga, Zohar, e Moonikin Campos - destina-se a preparar para estas missões posteriores.
Alguns dos projetos de investigação da Artemis I não voltarão à Terra, já que a missão visa o lançamento de 10 satélites miniatura na órbita da Lua, com o objetivo de recolher dados que a NASA, juntamente com empresas privadas, poderá eventualmente utilizar para navegação na Lua e em seu redor, bem como outras informações úteis para futuras missões. Estes satélites vão lançados por outro componente, Orion Stage Adapter, quando a nave espacial estiver a uma distância segura.
A Orion voará a cerca de 100 quilómetros acima da superfície da Lua e usará depois a força gravitacional do satélite natural da Terra para fazer uma nova órbita, mais profunda, a cerca de 70 mil quilómetros.
A nave permanecerá nesta órbita durante cerca de seis dias, para recolher dados e para que os controladores da missão possam avaliar o seu desempenho, circulando em redor da Lua na direção oposta à que o satélite orbita a Terra.
Para regressar à Terra, a Orion sobrevoará a Lua mais próximo, novamente a cerca de 100 quilómetros, e aproveitará a sua gravidade para acelerar em direção ao planeta.
Várias câmaras no interior da nave permitirão seguir a viagem do ponto de vista de um passageiro e câmaras colocadas nas extremidades dos painéis solares, que fornecem energia à Orion, irão tirar fotos da nave com a Lua e a Terra em pano de fundo.
Se tudo correr como esperado, a cápsula de Orion, juntamente com as suas experiências científicas, regressará à Terra, caindo no Oceano Pacífico, a 10 de outubro.