Trump entrou atrasado na reunião do G7, no Canadá. E logo propôs que este grupo voltasse a incluir a Rússia, proposta apoiada pelo novo governo de Itália. Tratava-se de uma provocação sem grande novidade. Depois, Trump saiu antes do fim das conversações e retirou os EUA do comunicado final da cimeira, insultando com a sua habitual grosseria o anfitrião, o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau. O G7 não apenas não voltou a ser G8 como se tornou G6.
Para quem ainda tivesse ilusões de que Trump admitisse evitar uma guerra comercial em larga escala, deverá tê-las perdido. Os EUA dispõem de armas poderosas no seu combate ao comércio internacional e às organizações multilaterais. Trump prefere acordos bilaterais, onde prevalece o superior poder económico e político americano; por isso vai destruir a NAFTA, a zona de comércio livre que junta EUA, México e Canadá. E qualquer eventual queixa à Organização Mundial do Comércio por parte dos países lesados pelo protecionismo de Washington será ignorada por Trump.
Trump ameaça fechar totalmente o mercado americano a países que, na sua opinião, procedam injustamente contra as exportações americanas. E esse mercado é enorme. Tem ainda outros trunfos, como o esmagador peso do dólar nas transações internacionais e no sector financeiro mundial. O euro ainda é demasiado frágil para fazer frente ao dólar.
E há a questão da defesa, na qual a passividade europeia dá alguma razão a Trump. Por isso se empenha agora Merkel em criar um núcleo europeu de defesa, incluindo o Reino Unido. Mas o facto é que as forças armadas alemãs estão hoje num deplorável estado, demorando anos a modernizá-las.
Da Alemanha também depende a retaliação da UE às medidas de Trump. Merkel receia que o presidente americano concretize a ameaça de travar a importação de automóveis nos EUA, o que seria dramático para a economia germânica. Por isso ainda pensa em negociações. Esperemos que essa possibilidade não divida os europeus – para isso, já basta a Itália.
Seja como for, vem aí tempos difíceis para a economia mundial. E Portugal estará entre os mais prejudicados, pois assenta o seu crescimento económico nas exportações.