O projeto-piloto de inovação pedagógica visando a diminuição de "chumbos" começou há três anos, em seis escolas do país e um estudo que avalia a iniciativa conclui, agora, que as chamadas "taxas de retenção" diminuíram em todos os ciclos do ensino básico.
O programa do Governo quer “criar um plano de não retenção no ensino básico, trabalhando de forma intensiva e diferenciada com os alunos que revelam mais dificuldades”, alargando este projeto-piloto com os agora lançados Planos de Inovação que permitem às escolas ter mais autonomia e flexibilidade curricular. Setenta e seis estabelecimentos de ensino estão já este ano lectivo a funcionar com novas regra,s que passam por alterações no currículo e até na organização do calendário escolar.
As seis escolas do país que implementaram o projeto-piloto tiveram liberdade total para gerir os currículos e implementar modelos pedagógicos inovadores. São escolas onde o abandono era elevado e as taxas de retenção muito altas.
Três anos depois a conclusão é clara: em todos os ciclos de ensino básico os chumbos diminuíram. Estela Costa, professora do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, coordenou o estudo que avaliou o projeto e diz à Renascença que “em todos os anos dos três ciclos do ensino básico, as taxas de retenção diminuíram. Mas, no segundo ciclo, houve uma evolução fantástica, há um agrupamento que passa dos 10,3 para os 0% de retenção”.
“Não é facilitismo, é resultado de um trabalho diferente”
Estela Costa estudou cada um dos seis agrupamentos e diz que, “mais importante que os números, são os processos e a motivação dos alunos. O segredo é manter os alunos na escola com interesse em aprender”.
Estas escolas implementaram uma alteração radical no seu funcionamento, é um trabalho muito exigente para os professores e para os diretores. Um dos agrupamentos decidiu que os alunos que já tinham chumbado vários anos, iam no ano seguinte repetir apenas as disciplinas que tinham tido negativa. Outras escolas apostaram nas tertúlias, na forma como se dão as aulas, num trabalho mais dedicado com cada aluno, na mistura de disciplinas.
A maioria recorre ás novas tecnologias, outros vão para a cozinha. Estela Costa ficou surpreendida como é possível ensinar tantas matérias num espaço diferente da sala de aula “na eco cozinha pedagógica é possível trabalhar um conjunto de conhecimentos como a química, a música, o português, o inglês”.
Estela Costa, a coordenadora deste estudo que avaliou os projetos-piloto faz recomendações ao governo, que passam pela continuidade e aprofundamento do processo de revisão curricular. É necessário também repensar os exames “estes alunos têm desempenhos satisfatórios nos exames nacionais. Mas os exames tradicionais têm de ser repensados á luz desta flexibilidade e maior autonomia na gestão do currículo”.