O Presidente da República considerou hoje que se está a aprofundar uma clivagem etária na sociedade portuguesa que também se expressa na desinformação entre a população mais velha e manifestou-se preocupado com esta assimetria.
Marcelo Rebelo de Sousa falava na redação do Público, em Lisboa, na apresentação da quarta edição do "PSuperior", programa que atribui assinaturas deste jornal a estudantes universitários com apoio de mecenas.
"Tenho vindo a pensar, na base dos meus contactos permanentes de rua, muitos, muitos, muitos, muitos nos últimos dois anos, que se está a aprofundar uma clivagem, que já não é só uma clivagem etária -- dessa eu já tinha falado -- na sociedade portuguesa", declarou o chefe de Estado, numa intervenção de cerca de 20 minutos.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, "há uma divisão no acesso à informação cada vez mais profunda entre estes dois hemisférios", o da população mais jovem, universitária, com "apetência para saber mais, para conhecer mais, para ter melhor informação, para selecionar as fontes de informação, para controlar a fidedignidade das fontes de informação", e o da população mais velha, "que se vai descolando, vai descolando da realidade".
No seu entender, os mais velhos vão "chegando à realidade por meios cada vez mais distantes, vagos, difusos, sem possibilidade e sem interesse sequer em controlar muito essa informação e não tendo vida para isso -- porque esse hemisfério não é só mais velho, é mais pobre, e a pobreza também se traduz no acesso à cultura, no tempo, no dinheiro, na disponibilidade, na força vital para esse acesso".
"E temos aqui dois países", afirmou o Presidente da República, considerando que "isto não tem nada a ver com mais direita, mais esquerda, mais acima, mais abaixo, mas tem a ver muito com uma clivagem de facto etária", que se agravou "com a pandemia e a crise emergente, e agora com a guerra a a crise emergente".
"Esta assimetria a mim preocupa-me, porque passamos a ter várias sociedades: várias sociedades no acesso à informação, várias sociedades na utilização da informação, várias sociedades na tomada de posições perante a informação", acrescentou.
O Presidente da República relatou que tem encontrado "cada vez mais generalizada" a formação de opiniões a partir de conteúdos falsos ou não verificados: "Não são só as redes sociais, são as redes do contacto entre as pessoas, na medida em que se vão distanciando de outras formas de informação, vão-se distanciando da realidade".
"Criam a sua realidade e vivem na sua realidade. Eu tenho encontrado muito disto", reforçou, atribuindo este comportamento sobretudo a "gente menos jovem e com uma vida mais difícil em termos económicos e sociais".
"Tem-se espalhado como mancha de óleo", observou.
Esta iniciativa do jornal Público, na qual também interveio o secretário de Estado do Ensino Superior, Pedro Nuno Teixeira, não constava da agenda do Presidente da República.