A Covid-19 colocou um travão na circulação de estudantes do Ensino Superior pela Europa. Se em setembro do ano passado 5.192 portugueses saíram do país ao abrigo do programa Erasmus – para frequentar uma faculdade estrangeira ou realizar um estágio –, este ano esse número caiu acentuadamente: apenas 1.509 estudantes – ou seja, menos 70,9% que em 2019 - rumaram a outros países europeus.
Por sua vez, o número de estudantes estrangeiros acolhidos pelas universidades nacionais, durante o primeiro semestre do corrente ano letivo, também registou uma quebra. Em 2019, 8.480 estudantes estrangeiros – 7.840 SMS (Student Mobility for Studies) Estudos e 640 SMT (Student Mobility for Trainneships) Estágios – chegaram, em setembro, a Portugal. Já este ano, o número ficou-se pelos 5.199 estudantes – 4.895 SMS e 304 SMT -, menos 33,6% que no ano passado.
Os dados, cedidos à Renascença pela Agência Nacional Erasmus – Educação e Formação, são ainda parciais – está em falta a resposta de cerca de 30% das instituições de Ensino Superior -, mas o impacto da pandemia é já visível. Entre 2014 e 2019, Portugal acolheu 58.061 estudantes Erasmus – 53.326 SMS e 4.735 SMT.
“Muitos estudantes estavam com medo de vir de Erasmus por não conhecerem ninguém, por causa da pandemia. Tem sido realmente um desafio. Mas, por enquanto está a correr bem, melhor do que esperávamos”, diz Rita Dias, presidente da Erasmus Student Network - Lisboa.
A ESN – Lisboa ainda não tem números oficiais para 2020, mas, tendo em conta os cartões de associados que vende aos estudantes estrangeiros, Rita Dias indica que a organização conta, neste momento, com “mais ou menos com um terço dos estudantes” que teria num ano normal. “Estávamos à espera de uma quebra ainda maior”, assume a responsável, apesar de ressalvar que Lisboa pode não ser exemplo, por comparação com outras secções da ESN espalhadas pelo país.
Devido à Covid-19, algumas faculdades nacionais optaram mesmo por cancelar os programas de mobilidade – tanto para os estudantes nacionais como para os estrangeiros. Houve também muitos estudantes que optaram por adiar o Erasmus para a primavera de 2021. “Sei que houve muitos estudantes internacionais que preferiram vir só no segundo semestre, que alteraram a mobilidade para o segundo semestre”, conta Rita Dias.
Uma mudança “enorme”
Živilė Latakaitė mudou-se da Lituânia para Portugal em setembro de 2019 para ingressar no Mestrado em Gestão de Recursos Humanos e Consultadoria Organizacional no ISCTE, em Lisboa. Passado um ano, e com uma pandemia pelo meio, faltam-lhe palavras para descrever a transformação do antes para o depois e durante a Covid-19. “Enorme”, “drástica”, “dramática”, diz.
“[A mudança] nota-se principalmente em eventos sociais. Desde março, os bares e discotecas fecharam. Agora, as pessoas estão à procura de outras formas de desfrutar mais da experiência de estar fora do país, mas é difícil”, explica.
A jovem de 25 anos conheceu Lisboa antes da pandemia, fez vida de estudante de Erasmus. Em março, com os primeiros casos do novo coronavírus em Portugal, regressou à Lituânia, mas, logo em maio, voltou para Lisboa.
Por estes dias, a faculdade está “menos divertida”, “há menos interação social”. Alguns colegas de turma chineses foram embora há alguns meses e não regressaram.