Depois de um ano pelo país, o Teatro Nacional D. Maria II regressa a Lisboa em 2024. Ao mesmo tempo, e enquanto decorrem durante mais um ano as obras na sala do Rossio, o teatro vai dar continuidade ao projeto da Odisseia Nacional. O anúncio foi feito esta quarta-feira, em Lisboa, na apresentação da nova temporada.
No edifício da Tobis Portuguesa, onde a administração do D. Maria II tem vindo a trabalhar desde que arrancaram as obras financiadas pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) na sala do Rossio, o presidente do conselho de administração, Rui Catarino, sublinhou que o D. Maria está hoje “numa encruzilhada” depois de terminar um ano de Odisseia Nacional.
“Estamos a terminar um ano da Odisseia Nacional, foi uma longa maratona, uma corrida em sprint. No regresso temos a necessidade de moldar o D. Maria a esta realidade que agora conhecemos. Há uma necessidade de repensar. Queremos um novo teatro símbolo e simbólico”, referiu Rui Catarino
Assim, em 2024 o D. Maria irá manter a parceria com 38 municípios que permitirá desenvolver dezenas de criações artísticas, serão também mantidos os vários programas que foram desenvolvidos em 2023.
Segundo o diretor artístico do teatro, Pedro Penim, era “claro desde o início que a Odisseia Nacional tinha de continuar. Era preciso fugir à efemeridade do projeto e dar-lhe continuidade”, indicou na apresentação.
Mas em 2024, além deste “braço”, de dar continuidade à Odisseia Nacional, como referiu Pedro Penim, o Nacional irá também apostar em programação que celebra os 50 anos do 25 de Abril de 1974.
Previsto está um conjunto de espetáculos que abordam temáticas relacionadas com a Revolução e que marcará o regresso a Lisboa do D. Maria de “março a julho”, indicou Penim. “Irá apresentar 17 projetos artísticos, numa programação inspirada nas conquitas de Abril e que sublinha as conquistas também culturais”, explicou o diretor artístico.
A 20 de abril de 2024, o Teatro Municipal São Luiz irá receber o espetáculo “Quis Saber Quem Sou”, uma criação de Pedro Penim que revisita “o cancioneiro popular pré e pós Revolução”, explicou Pedro Penim.
“Para mim o cancioneiro é uma referência absoluta e é estruturante da minha personalidade e daquilo que sou neste momento. 50 anos é muito tempo, e a importância deste cancioneiro para as novas gerações deve ter-se diluído. Este ‘Quis Saber Quem Sou’ tenta aproximar as novas gerações deste cancioneiro que será revisitado”, descreveu Penim.
Mas na programação que celebra Abril, o D. Maria irá também levar à rua as artes performativas. Exemplo disso será a nova criação da escritora e encenadora Patrícia Portela. “Mercado das Madrugadas,” será apresentado no Largo de São Domingos, em maio e tal como a Revolução dos Cravos, tomará a rua como palco.
Neste ciclo Abril Abriu, cujo título é inspirado num poema de Ary dos Santos, estão previstos mais espetáculos, um deles a mais recente criação de Keli Freitas. “Madrinhas de Guerra” é uma criação inspirada na “coleção de cartas de madrinhas de guerra” que a artista tem e sobre as quais está a “fazer a tese de mestrado” e que será apresentado num espaço simbólico, como o Tribunal da Boa Hora.
Pedro Penim considera que este ciclo que celebra 50 anos de democracia “assume o desafio de aproximar as novas gerações dos ideais que Abril abriu”. Já antes, Rui Catarino tinha referido os tempos “conturbados” que vivemos e como o “teatro é uma ferramenta política” e que é necessário “pregar a democracia cultural”.
Na Tobis que Penim chamou de “cozinha” da nova programação agora divulgada, o diretor artístico admitiu que é “candidato” de novo à direção do Teatro Nacional D. Maria II. “Sou concorrente à direção do D. Maria. Não teria concorrido se não quisesse ficar. A primeira nomeação não foi um concurso, mas há um trabalho de continuidade que pode ser feito”, apontou Penim.
Questionado pela Renascença, sobre a diminuição do número de concelhos que participam em 2024, na Odisseia Nacional, o diretor artístico indicou que “seria impossível manter o mesmo ritmo”, mas “2023 foi o ano da experiência com um saldo positivo”.
“Há municípios que querem continuar, há pequenos municípios com poucas condições financeiras e nos quais queremos ficar. Há uma questão logística, porque estando em Lisboa, não conseguiríamos estar em todos os concelhos”, explicou Penim. Contudo, o responsável explicou que a “Odisseia Nacional poderá passar a ser uma programação para ficar” no futuro.