A Ryanair pretende abandonar as rotas que mantém com a Região Autónoma dos Açores, onde opera ligações para as ilhas de São Miguel e Terceira. A intenção da companhia é de reduzir as ligações já a partir do mês de outubro, decisão que justifica com o aumento das taxas aeroportuárias na região.
O governo regional, através da Secretaria Regional do Turismo e Mobilidade, tem mantido negociações com a companhia para evitar o fim da rota turística. A companhia aérea irlandesa pretende uma "partilha de riscos" para manter as rotas, com o governo regional a financiar um subsídio pela promoção dos Açores como destino turístico.
Para já, deixou de ser possível reservar passagem aérea para estes destinos no site da companhia a partir do mês de outubro, algo que Elena Cabrera, "manager" da empresa, em declarações ao Dinheiro Vivo, diz ser uma "decisão puramente comercial".
A Ryanair exige a redução das taxas pagas nos arquipélagos (que este ano se cifrou nos 4,3%), mas o governo regional não pode interferir nessa redução, uma vez que é à ANA, a gestora dos aeroportos nacionais, que compete esta pasta.
Em alternativa, Elena Cabrera assume que receber um subsídio "é uma opção" e defende que deve existir "um risco partilhado" com os decisores políticos.
O Combate à sazonalidade é um dos pilares do Plano Estratégico do Turismo dos Açores
A Câmara de Comércio e Indústria de Ponta Delgada (CCIPD) reiterou esta segunda-feira a necessidade de manutenção das rotas da Ryanair com os Açores, com níveis de capacidade "adequados à procura".
"Na sequência das recentes notícias sobre uma possível redução substancial na capacidade aérea nas rotas domésticas da Ryanair no inverno IATA 2023/24, para os Açores, a Câmara de Comércio e Indústria de Ponta Delgada vem reforçar a sua posição quanto à necessidade de manutenção das referidas rotas, com níveis de capacidade adequados à procura", refere o organismo, em nota de imprensa.
Para a CCIPD, "só assim é possível não pôr em causa todo o trabalho que tem vindo a ser realizado no combate da sazonalidade, potenciador de um desenvolvimento turístico sustentável, que é aliás um dos pilares no qual assenta o PEMTA - Plano Estratégico e de Marketing do Turismo dos Açores".
Ainda de acordo com a CCIPD, perder a capacidade aérea instalada para os Açores no inverno poderá contribuir para "uma inequívoca destruição de valor no desenvolvimento do setor do turismo" na região e traduzirá, já no curto prazo, um retrocesso com impacto direto em todos os intervenientes que, após uma crise "inesperada e profunda", precisam de crescer e consolidar os negócios.
A CCIP adianta ainda que os operadores económicos do turismo nos Açores já sinalizam "uma quebra abrupta de reservas" para novembro, "que decorre em grande medida da não existência de voos da Ryanair para venda 'online'".
"As acessibilidades aéreas, a par com a oferta/produto turístico e a promoção turística, são um pilar imprescindível ao desenvolvimento do turismo, sendo que no caso da Ryanair não só oferece disponibilidade de voos, mas também desempenha um papel muito eficaz na promoção do destino Açores em toda a sua rede de rotas na Europa. Os voos domésticos do Porto e de Lisboa para os Açores, são especialmente importantes no inverno para trazerem turistas da Europa para os Açores", lê-se na nota.
A CCIPD defende também que é necessário retomar o investimento na promoção do destino Açores para que, em complemento com a manutenção da rede das acessibilidades aéreas, se possa garantir a sustentabilidade do setor do turismo, em especial na época baixa.
O organismo estima que a eventual redução da operação da Ryanair possa provocar a perda de 50 a 70 postos de trabalho do "hub" de Ponta Delgada, considerando que isso representará "uma evidência clara da perda de competitividade do destino Açores e clara da insuficiência da promoção turística" da região.
Além disso, acrescenta a CCIPD, representará "um risco acrescido para os investimentos em alojamento particularmente para os alojamentos locais".
A Ryanair, recorde-se, está a operar em Ponta Delgada desde o início da liberalização do espaço aéreo, em 2015, enquanto que na Terceira a operação teve início em 2016.