Do pão aos frescos. Aumentos serão "uma inevitabilidade" se os preços da energia continuarem a subir
21-10-2021 - 19:19
 • Henrique Cunha

Setor da panificação antecipa subida dos preços e, no limite, o encerramento de várias empresas. Nas frutas e legumes, a CAP admite aumentos nos produtos frescos e transformados. Para já, só a distribuição não prevê preços mais elevados nas prateleiras dos supermercados. Mas os efeitos podem surgir "no curto prazo".

O aumento dos preços em vários produtos será uma inevitabilidade se a escalada do preço da energia e, em particular, dos combustíveis não for travada.

O cenário é antecipado na Renascença por vários agentes do setor alimentar e da distribuição.

Hélder Pires, da Associação do Comércio e da Indústria da Panificação (ACIP) admite que o pão vai ficar mais caro para os consumidores, uma vez que, segundo diz, "a única possibilidade que [os operadores] têm para conseguir fazer face a esta situação é repercutir, pelo menos, em parte, estes aumentos nos preços de venda dos produtos".

Pior é o quadro admitido pelo presidente da Associação dos Industriais de Panificação e Similares do Norte: António Fontes diz temer pela sobrevivência das empresas, "porque percebemos que as condições em que estamos a operar neste momento são completamente ímpares, que nunca vivemos neste setor. E tememos, exatamente, pelo futuro próximo".

O futuro próximo coloca-se já em janeiro, "onde vamos ter o reflexo do salário mínimo nos custos operacionais das empresas deste setor".

António Fontes alerta que os empresários que não tomarem medidas poderão enfrentar um cenário de rutura num setor que, diz, "neste momento, já está muito fragilizado".

Também no caso das frutas e dos produtos hortícolas, o presidente da CAP, Eduardo Oliveira e Sousa diz à Renascença que "dentro de pouco tempo se vai fazer sentir a alteração nos preços nos produtos frescos e nos produtos transformados".

"O Governo não se apercebeu, ou não quis dar a devida atenção a esta questão e levou a conversa muito para as questões da mobilidade, associando o consumo de combustível às pessoas que põem gasolina e gasóleo nos automóveis e nos camiões, deixando para segundo plano a importância da introdução dos produtos energéticos na cadeia de valor e na cadeia produtiva e, por isso, vai haver repercussão em particular em todos os produtos que vão começar a ser fabricados a partir de agora", avisa o presidente da CAP.

Do lado da distribuição, não há, por agora, uma perspetiva de aumento do preço dos bens alimentares, mas Gonçalo Lobo Xavier lembra que "a pressão na cadeia de valor pode vir a ter efeitos" no curto prazo.

"O preço da energia (gás natural, eletricidade) está a subir para toda a cadeia - produção, indústria e, consequentemente, para os transportadores - e nós queremos apresentar os preços mais equilibrados aos nossos consumidores.

Agora, esta pressão, mais tarde ou mais cedo, poderá provocar o crescimento de preços", alerta o diretor-geral da Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED).