O cofundador da Altice, Armando Pereira, que foi detido esta semana após buscas à sede da empresa, já trabalhou na construção civil e foi canalizador, antes de regressar de França para Portugal, onde subiu a pulso até a um cargo de chefia numa das maiores empresa privadas a atuar no país.
Natural de Gilhofrei, em Vieira do Minho, no distrito de Braga, Armando Pereira nasceu em março de 1952 em casa, tal como os restantes cinco irmãos.
Assim que completou a quarta classe, aos 11 anos, deixou a família para ir trabalhar como ajudante de feirante, primeiro em Fafe, depois, em Pevidém, Guimarães.
"Durante anos ajudou a vender tecidos, numa altura em que a roupa era toda feita à medida por costureiras e alfaiates -- até fazer 14 anos, quando foi trabalhar para a feira de Espinho, a poucos quilómetros a sul do Porto, onde tinha familiares.", escreveu a revista Visão em 3 de junho de 2015.
Nestas feiras, eram constantes as conversas acerca de quem emigrava para França, onde se dizia não faltar trabalho nem dinheiro.
Vida em França
Partiu sozinho para França com um bilhete de identidade falso e que lhe atribuía 17 anos, para poder trabalhar, correndo o risco de ser deportado. Não levou qualquer mala, nem de cartão, apenas a roupa do corpo e dois contos de reis que juntou a trabalhar nas feiras, adianta a Visão no mesmo artigo.
À semelhança de muitos outros milhares de emigrantes, trabalhou na construção civil nos arredores de Paris. Depois, em Meurthe-et-Moselle, foi canalizador, responsável por instalar canos nas ruas da localidade.
Foi em Nancy que conheceu a mulher com quem viria a casar, filha do então empreiteiro para quem trabalhava.
Armando Pereira tem licença para pilotar. Aliás, sempre que pode, o empresário pega no helicóptero e sobrevoa a terra onde nasceu e cresceu.
Tem um gosto particular pelo rali e por corridas de carros, escreve a "Visão" em 2015.
Regresso a Portugal
Armando Pereira esteve mais de uma década sem regressar a Portugal. Quando voltou, comprou a casa onde nasceu e onde os pais, entretanto falecidos, trataram das terras.
Por esta altura, Armando já era rico. Ou melhor, muito rico. Já tinha criado, nos anos 80, a sua própria empresa. Ao meter os primeiros canos para as operadoras de telecomunicações, depressa percebeu o potencial do negócio. Criou a Sogetrel, com sede em Thaon-Les-Vosges, e que trabalhou quase em exclusivo para a France Télécom. Nos anos 90, vende esta empresa ao banco holandês, ABN Amro, realizando a sua primeira grande mais valia: 31,5 milhões de euros, diz a Visão.
Criação da Altice
Foi mais ou menos por esta altura que a vida de Armando se cruzou com a de Patrick Drahi, outro jovem emigrante de origem marroquina, "ambicioso e trabalhador", de quem se torna amigo. Depois de alguns trabalhos em conjunto, acabam por criar a Altice, a gigante internacional de telecomunicações de que hoje se fala.
Armando Pereira começa a comprar casas e terrenos em Guilhofrei. Depois de restaurar a casa onde nasceu, comprou a quinta que, na sua infância, era a mais rica da freguesia.
A Quinta das Casas Novas com vista privilegiada para a Barragem do Ermal, é uma herdade com 15 hectares de terreno, possuiu um heliporto, campo de ténis, pavilhão gimnodesportivo, campo de futebol, pista de karting, várias piscinas e um pequeno campo de golfe.
Com casas em Paris, Luxemburgo, Marbella e Maiorca, o empresário tem diversas moradas, diz a revista portuguesa.
"Gestão agressiva"
"Quem com ele [Armando Pereira] já se cruzou remete para “uma forma de estar na gestão pouco convencional, agressiva”.
Em privado, adiantava ainda a Visão há oito anos, Armado Pereira é um pouco “trauliteiro”, facilmente se gaba de “quanto gasta nas despesas da casa”.
Apesar disso, reconhecem-lhe “o valor de quem subiu a pulso” e até “as coisas interessantes que fez no mundo dos negócios.”, escreveu a Visão no artigo de 3 de junho de 2015.