Na catedral de Ulan-Bator, redonda como as tendas nómadas da Mongólia, o Papa quis “saborear o gosto da fé nestas terras” e “recordar histórias e rostos de vidas gastas pelo Evangelho”.
“Deus ama a pequenez e gosta de realizar grandes coisas mediante a pequenez, como testemunha Maria”, afirmou Francisco. “Irmãos, irmãs, não tenhais medo dos números exíguos, dos sucessos que tardam, da relevância que não se avista”. E acrescentou: “Estou convosco. Avante! Deus ama-vos”
O encontro com os bispos, sacerdotes e consagrados começou com breves testemunhos de missionários e de um jovem sacerdote mongol que manifestaram com simplicidade os desafios do Evangelho nestas terras.
No seu discurso, Francisco lembrou as raízes antigas da fé católica, com registos desde o movimento evangelizador de tradição siríaca do primeiro milénio e se estendeu ao longo da rota da seda, com um considerável empenho missionário, com as missões diplomáticas do século XIII e a nomeação de um primeiro Bispo para toda esta vasta região do mundo sob a dinastia mongol.
Vicissitudes várias levaram à perseguição e desaparecimento do cristianismo deste território que só regressou com a chegada dos primeiros missionários em 1992, após a queda do império soviético.
“Nestes trinta e um anos de presença na Mongólia, vós, queridos sacerdotes, consagrados, consagradas e agentes pastorais, destes vida a uma multiforme variedade de iniciativas socio caritativas, que absorvem a maior parte das vossas energias e refletem o rosto misericordioso de Cristo bom samaritano”, disse o Papa, encorajando a pequena comunidade católica a dar testemunho nos setores da assistência, educação, saúde e promoção cultural.
“Permanecei sempre próximo da gente, cuidando dela pessoalmente, aprendendo a sua língua, respeitando e amando a sua cultura, não vos deixando tentar por seguranças mundanas, mas permanecendo firmes no Evangelho através duma exemplar retidão de vida espiritual e moral”, pediu o Papa.
Apesar de muito reduzida, a comunidade católica na Mongólia, com apenas 1400 batizados, tem no entanto um jovem cardeal, criado por Francisco no Consistório de agosto passado. “Convido-vos a ver no Bispo não um empresário, mas a imagem viva de Cristo bom Pastor que reúne e guia o seu povo”, disse o Santo Padre. “E o facto do vosso Bispo ser Cardeal pretende ser mais uma expressão de proximidade: todos vós, distantes apenas fisicamente, vos encontrais muito próximo do coração de Pedro; e a Igreja inteira está próxima de vós, da vossa comunidade, que é verdadeiramente católica, isto é, universal e que faz atrair para a Mongólia a simpatia de todos os irmãos e irmãs espalhados pelo mundo, numa grande comunhão eclesial”, garantiu Francisco.
“Nossa Senhora, Mãe da Ásia” encontrada no lixo
No final do encontro, o Papa abençoou uma Imagem da Virgem em madeira, colocada num pedestal junto ao altar. Esta Imagem foi encontrada há dez anos num monte de lixo pela Sra. Tsetsege, que o Papa saudou antes da cerimónia. A Imagem viria a ser entronizada na catedral de São Pedro e São Paulo como “Nossa Senhora Mãe do Céu” e foi perante ela que, no passado dia 8 de dezembro, o cardeal de Ulan-Bator, Giorgo Marengo, consagrou a Mongólia a Maria.
Francisco considerou esta circunstância um especial dom de Maria a este povo. “Tendes o apoio seguro da nossa Mãe celeste, que quis dar-vos um sinal palpável da sua presença discreta e solícita (gostei muito de descobrir isto) ao deixar que se encontrasse a sua efígie numa lixeira. Naquele lugar dos detritos, apareceu esta bela estátua da Imaculada: Ela, sem mácula, imune do pecado, quis chegar tão perto a ponto de ser confundida com os desperdícios da sociedade, para que, da imundície do lixo, emergisse a pureza da Santa Mãe de Deus”, afirmou.
Neste contexto, “a pequenez não é um problema, mas um recurso” disse ainda o Papa, olhando para a reduzida comunidade de católicos na Mongólia. “Sim, Deus ama a pequenez e gosta de realizar grandes coisas mediante a pequenez, como testemunha Maria. Irmãos, irmãs, não tenhais medo dos números exíguos, dos sucessos que tardam, da relevância que não se avista.” Francisco elogiou a pequenez, de Maria e confiou os fiéis mongóis a consagrarem-se a Ela, “pedindo um renovado zelo, um ardente amor, que não se cansa de testemunhar o Evangelho com alegria. Avante! Deus ama-vos: Ele escolheu-vos e crê em vós”.
No final, o Santo Padre agradeceu a todos calorosamente “Estou convosco e, de todo o coração, digo-vos: obrigado pelo vosso testemunho, obrigado pelas vossas vidas gastas pelo Evangelho!”