O primeiro-ministro admitiu hoje que o ex-Presidente da República Cavaco Silva esteja um pouco azedo após ter perdido eleições tanto no PSD como no país e contrapôs que o crescimento é em média superior com governos socialistas.
Estas posições foram assumidas por António Costa numa entrevista promovida pelo Clube de Jornalistas, em parceria com a agência Lusa e com a Escola Superior de Comunicação Social, no âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril e dos 40 anos do clube.
Na parte final da entrevista, António Costa foi confrontado com o artigo de Cavaco Silva, publicado no jornal Público, em que o atual primeiro-ministro é criticado por ter falta de coragem.
"Ninguém é bom juiz em causa própria e alguns não são bons juízes em causa alheia", começou por reagir o líder do executivo.
O artigo de Cavaco Silva, segundo o primeiro-ministro, "não tem grandes novidades relativamente àquilo que se sabe que é o pensamento dele".
Para António Costa, é mesmo "um artigo talvez um bocadinho mais azedo do que é habitual". "Mas é preciso ser justo e perceber que quem acabou de ter uma derrota no PSD e outra derrota no país é capaz de estar um pouco azedo", comentou.
A divergência fundamental, na perspetiva de António Costa, reside em torno daquilo "que o professor Cavaco Silva entende o que são as reformas necessárias para o país" e as reformas que ele, secretário-geral do PS, entende necessárias.
"Cavaco Silva, como a direita habitualmente, entende que as grandes reformas são o choque fiscal e a desregulação do mercado de trabalho. Eu entendo que o grande investimento que temos de fazer para melhorar a produtividade das empresas e a competitividade do país é investir nas qualificações e na inovação", contrapôs.
Mas António Costa foi ainda mais longe nas suas críticas.
"Tivesse Cavaco Silva aplicado a minha ideia enquanto governou e o Produto Interno Bruto do país seria francamente diferente. Para já, eu respeito a opinião dele e ele seguramente respeita a minha. Por isso, há democracia", sustentou.
Nesta entrevista, com cinco jornalistas de cinco diferentes gerações (Henrique Garcia, Luísa Meireles, Ana Sá Lopes, Rita Tavares e Filipe Santa-Bárbara), que foi conduzida por Maria Elisa Domingues, o primeiro-ministro foi questionado também se estava disponível para entendimentos com o próximo líder do PSD com vista a levar a cabo reformas em áreas importantes do país.
"Há matérias sobre as quais o problema não é se queremos fazer acordos com o PSD, é aquilo que o PSD propõe não ser aceitável", defendeu.
António Costa disse estar disponível para fazer reformas "se o PSD quiser", mas ressalvou que os socialistas "não coincidem com o PSD sobre as reformas que são necessárias".
Quanto aos candidatos à liderança do PSD nas diretas marcadas para 28 de maio, Luís Montenegro e Jorge Moreira da Silva, Costa disse não saber "o que é que cada um pensa", mas do que tem ouvido a dúvida "é saber qual deles é mais parecido com o doutor Passos Coelho".
"Estamos mais focados no futuro e menos na repetição do passado", salientou.