O Papa enviou esta quinta-feira uma dura mensagem vídeo aos católicos de rito siro-malabar da arquidiocese de Ernakulam-Angamaly, no sul da Índia.
Em causa está uma prolongada discussão de décadas sobre a correta celebração do “Holy Qurbana” (antigo rito litúrgico correspondente ao “Santo Sacrifício”, desde sempre celebrado nesta zona da Índia evangelizada pelo apóstolo São Tomé), que mereceu, em 2021, um longo e cansativo trabalho do Sínodo siro-malabar.
Nesta mensagem, o Santo Padre recorda que “a caridade e o amor pela comunhão levaram os seus membros a dar este passo, ainda que alguns deles não considerassem ideal esta forma de celebração. São os sacrifícios que a comunhão exige!”, afirmou.
Nos últimos tempos, no entanto, as divisões acentuaram-se, com alguns atos de violência.
O Papa escreveu, respetivamente em 2021 e em 2022, duas cartas aos bispos, sacerdotes, religiosos e leigos pedindo-lhes, sem sucesso, obediência ao Sínodo. Mais tarde, Francisco nomeou um delegado pessoal para tentar moderar os ânimos, mas o próprio representante papal foi alvo de violência verbal e atingido por ovos e outros objectos.
Perante esta situação, Francisco divulgou agora um vídeo, onde manifesta o seu pesar, sublinhando que “por detrás destas diatribes há razões mundanas que não têm nada a ver com a celebração da eucaristia e da liturgia”. E acrescenta: “Mas a Igreja é comunhão. Se não há comunhão, não é Igreja. É uma seita”.
O Papa deixa um apelo aos mais críticos: “Por favor, não continuem a ferir o corpo de Cristo! Não se separem mais dele! E, ainda que tenham razões de queixa, uns contra os outros, perdoai-vos com generosidade”.
Francisco recorda, com veemência: “Vós sois Igreja, não vos transformeis numa seita. Não obriguem as autoridades eclesiásticas competentes a reconhecer que saístes da Igreja por não estardes em comunhão com os vossos pastores e com o Sucessor de Pedro, chamado a confirmar todos os irmãos e irmãs na fé e a conservá-los na unidade da Igreja”.
E sublinha que, se não houver comunhão, “então, com grande dor, terão de ser tomadas as respetivas sanções” e “eu não quero chegar a esse ponto”.
Entretanto, em mais uma tentativa para serenar os ânimos, o Papa aceitou esta quinta-feira a renúncia do governo pastoral desta arquidiocese apresentada pelo cardeal George Alencherry, arcebispo maior de Ernakulam-Angamaly dos Siro-Malabares (a quem agradeceu a sua fidelidade e disponibilidade para resignar, com vista a construir a comunhão).
Aceitou também a renúncia do administrador apostólico de Ernakulam-Angamaly dos Siro-Malabares, Andrews Thazhath, arcebispo metropolita de Trichur dos Siro-Malabaresi.