“Se Carlos Moedas fosse candidato certamente ganhava as diretas no PSD”, vaticina Miguel Relvas, em entrevista à Renascença, mas Miguel Pinto Luz é o seu favorito. Para o antigo ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares, quanto mais depressa Rui Rio deixar a liderança social-democrata, melhor.
Estamos na véspera de mais um conselho nacional do PSD, este sim, para aprovar a data das eleições diretas. Não acha que já se perdeu tempo demais?
Acho que se perdeu imenso tempo. O PSD tem pela frente um dos maiores desafios da sua história, até porque pela primeira vez há dois partidos novos à sua direita (IL e Chega) que vão querer ocupar este espaço. Ainda tive esperança que, com a repetição das eleições no círculo da Europa, o PSD aproveitasse para acelerar o calendário, mas não aconteceu.
E Rui Rio é o responsável...
Eu penso que o líder do partido tinha a obrigação até porque disse, na noite das eleições, que já não era útil ao PSD. O Dr. Rui Rio fechou o seu ciclo, ele tem legitimidade estatutária para continuar na liderança, mas a questão é ter legitimidade política.
Acha que Rui Rio se devia ter demitido para acelerar o processo?
Eu não encontro razões de ordem política para manter este processo, o PSD tem de virar a página. E isso significa um líder novo, novos protagonistas e novas políticas. O pedido que deixo é que a eleição seja o mais rápido possível, para que no parlamento o partido assuma uma oposição clara, frontal e objetiva. Temos a obrigação de dar os instrumentos a quem vai assumir esta tarefa tão delicada que é dirigir um partido que tem um grupo parlamentar considerado por todos como o mais fraco de sempre.
O senhor foi deputado durante muitos anos. Quem é que vê nesta bancada como um bom líder parlamentar?
Não é óbvio. No passado a resposta era óbvia, hoje não. Eu não estou a dizer que as pessoas não têm qualidade, estou a falar de qualidade e peso político para esta tarefa. Certamente que se encontrará alguém e espero que o novo líder seja capaz de encontrar o que tem melhores condições independentemente de o apoiar. O próximo líder tem de ser capaz de unir as diferentes correntes de opinião para dar exemplo ao país e para sensibilizar os eleitores que já votaram no PS a votarem no PSD.
E fazer oposição a um Governo de maioria absoluta?
E para além disso estamos numa situação ainda mais delicada. Esta guerra na Ucrânia é muito dura no plano humano, e vai deixar marcas no plano económico. Em Portugal, o que era previsível que viesse a acontecer nos próximos quatros anos, poderá não ser o mesmo. Poderemos não ter a estabilidade que está prevista, pode haver fatores de divisão na sociedade portuguesa.
Está a dizer que este Governo pode não durar a legislatura?
O que estou a dizer é que tudo será diferente e isso obriga a liderança do PSD a ter maiores responsabilidades nas propostas que vai apresentar. É preciso preparar o partido para uma nova realidade. O partido precisa de estar unido e chamar setores importantes da sociedade portuguesa.
O conselho nacional está marcado para a próxima segunda-feira à noite, em Ovar, no mesmo dia em que o Presidente da República convocou o Conselho de Estado para falar sobre a situação na Ucrânia. Rui Rio é conselheiro de Estado, acha que o presidente se esqueceu da reunião do PSD?
Infelizmente, é mais um dado que aponta a insignificância da liderança do PSD. Essa é questão central.
A comissão política vai levar a proposta da data das diretas. Tudo aponta para o fim de maio ou início de junho para a eleição. É tarde demais?
Se da última vez (em novembro) foi possível realizar em 30 dias as eleições diretas e um congresso, sem que os princípios fossem violados, eu pergunto porque não o fazemos agora quando a situação é ainda mais delicada. Uma guerra no mundo, um partido diminuído e dividido.
Em 2020 apoiou Miguel Pinto Luz , agora qual é o melhor candidato destes nomes: Luís Montenegro, Miguel Pinto Luz, Paulo Rangel, Jorge Moreira da Silva, Ribau Esteves?
Eu apoiei Miguel Pinto Luz e, se voltar a ser candidato, tem o meu apoio. Mas mais importante do que isso é dizer que Luís Montenegro, Paulo Rangel, Miguel Pinto Luz e Jorge Moreira da Silva têm de estar juntos numa próxima solução.
E todos eles são capazes de agregar todas as tendências que existem no partido?
O próximo líder tem a obrigação de ir buscar os outros. O Dr. Passos Coelho ganhou as diretas em 2010 com 60% e a primeira iniciativa que tomou foi ir buscar para o conselho nacional Paulo Rangel, que tinha sido o seu principal adversário. Quero dizer com isto que, só tem condições de federar quem sabe ganhar. Ser líder do PSD será talvez o cargo político mais difícil de ser exercido nos próximos anos. Tem de ser alguém com um projeto para o país e para o partido.
Mas destes nomes quem tem esse perfil?
Deixe-me dar o exemplo do Dr. Marques Mendes. Quando o PS ganhou com maioria absoluta, pouco depois ele foi eleito líder e no dia seguinte chamou todos. E dois anos depois ganhámos as eleições autárquicas com um dos melhores resultados que o PSD teve até hoje. Tínhamos um líder que sabia o que queria.
Mas voltando a estes possíveis candidatos...
Eu não tenho nenhuma resistência a qualquer um deles. Quero ouvir o que eles pensam e para mim é fundamental que o próximo líder assuma que não vai governar sozinho.
E acha que nestas diretas, dado o estado atual do partido, é de esperar várias candidaturas?
Se o debate for genuíno e de projetos, não vejo problema nenhum e é isso que vai acontecer. Quem ganhar tem de perceber que ser líder é uma etapa e depois é preciso convencer o país. Esse é o desafio…
Até porque daqui a dois anos há eleições europeias.
Certo, e o líder do PSD é também candidato a primeiro-ministro.
Mas o líder que ganhar agora pode não ser o mesmo daqui a quatro anos?
Mas eu espero que o líder não tenha um selo de duração.
No último congresso Miguel Pinto Luz foi o único que criticou abertamente a liderança de Rui Rio, enquanto Luís Montenegro adotou uma estratégia diferente.
Cada um tem o seu estilo, gostei mais do discurso de Miguel Pinto Luz porque era mais realista. Mas isso não impede Luís Montenegro de vir a ser um bom líder do PSD.
Nesse congresso Carlos Moedas foi o mais aplaudido. Seria um bom candidato para o partido nesta altura?
O engenheiro Carlos Moedas tem todas as condições para ser líder do PSD, mas tem um problema, porque seria muito difícil um presidente de câmara eleito há meia dúzia de meses ser em simultâneo líder do PSD.
Ele terá outras oportunidades no futuro, mas acredito que se ele se se candidatasse certamente ganharia as eleições, mas não sei se seria a melhor opção para ele e para o partido. Ele é talvez o militante a quem é mais fácil colocar o selo de ganhador.
Falou aqui várias vezes de Pedro Passos Coelho. Já disse que é a única grande reserva do espaço do centro-direita. No estado em que o partido está, esta seria uma opção? Carlos Carreiras lançou, aqui na Renascença, o nome de Marques Mendes?
O Dr. Passos Coelho não tem nenhuma obrigação moral em ser candidato, já cumpriu a sua missão com brilho e salvou o país de uma das maiores crises da história. Em segundo lugar, o PSD não precisa de regressar a nomes do passado. Há uma nova geração, Luís Montenegro, Miguel Pinto Luz, Jorge Moreira da Silva, Paulo Rangel e Carlos Moedas, todos juntos serão capazes de trabalhar para colocar o partido no seu lugar.
Está a afastar qualquer possibilidade de Passos Coelho voltar a liderar o partido?
Sim, neste momento. Passos Coelho tem condições para se candidatar a qualquer cargo político. Sei que os portugueses têm dele uma imagem de grande competência, rigor e carinho.