André Ventura, do Chega, propõe que Joacine Katar Moreira seja “devolvida ao seu país de origem”, declarações polémicas depois de a deputada do Livre ter defendido que o património das ex-colónias em museus seja restituído aos países de origem.
“Eu proponho que a própria deputada Joacine seja devolvida ao seu país de origem. Seria muito mais tranquilo para todos... inclusivamente para o seu partido! Mas sobretudo para Portugal!”, escreveu o deputado André Ventura na sua conta na rede social Facebook.
O partido Livre quer que todo o património das ex-colónias, presente em território português, possa ser restituído pelos países de origem de forma a "descolonizar" museus e monumentos estatais, segundo uma proposta de alteração ao Orçamento do Estado para 2020.
A elaboração da lista do património a ser restituído estaria a cargo de um "grupo de trabalho composto por museólogos, curadores e investigadores científicos".
Livre repudia ataques racistas
O Livre repudia as declarações do líder do Chega, André Ventura, mas também do novo presidente do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, sobre a deputada Joacine Katar Moreira.
Esta terça-feira, à saída de uma audiência com o Presidente da República, Francisco Rodrigues dos Santos, que foi eleito no congresso do último fim de semana, disse que "no CDS não existem Joacines”, declarando a sua "confiança inabalável em todos os deputados no CDS".
"No CDS não existem Joacines, existe um grupo de pessoas que partilham dos mesmos valores, estão sintonizados na mensagem que querem passar para o país", assinalou, referindo-se à crise interna entre a deputada Joacine Katar Moreira e os órgãos do partido.
Perante estas declarações dos líderes do Chega e do CDS, o Grupo de Contacto do Livre refere que "não pode deixar de repudiar veementemente esses ataques e o uso de uma linguagem depreciativa e difamatória, que perpetua estigmas racistas e sexistas na sociedade portuguesa".
Em comunicado enviado às redações, o partido fala em "contínuos ataques de caráter e referências de índole racista por parte de deputados e dirigentes partidários da direita".
"As divergências políticas não podem dar lugar nunca a manifestações discriminatórias, ainda mais por representantes eleitos para a Assembleia da República e por responsáveis políticos e partidários, num Estado de direito democrático assente no pluralismo de expressão, no respeito e garantia de liberdades fundamentais", assinala a direção do partido.
O Livre destaca igualmente que "está e estará sempre na linha da frente no combate a todas as discriminações, e repudia as declarações sexistas e deselegantes de Francisco Rodrigues dos Santos e as palavras deploráveis e racistas de André Ventura, deputado da extrema-direita portuguesa".
Bloco vai pedir condenação no Parlamento
Também o presidente do grupo parlamentar do Bloco, Pedro Filipe Soares, reagiu esta terça-feira às declarações de André Ventura, exigindo de todos os agentes políticos “uma frontal condenação”.
Numa publicação na rede social Twitter, Pedro Filipe Soares considera que a atitude do líder do Chega é uma “expressão de racismo e falta de noção democrática”. E acrescentou: “Este ato exige de todos uma frontal condenação. É isso que proporemos ao Presidente da Assembleia da República e a todos os parlamentares".
Líder das Mulheres Socialistas acusa Ventura de "racismo" e "sexismo"
A presidente do Departamento das Mulheres Socialistas acusa o deputado do Chega, André Ventura, de "racismo" e de "sexismo", violando os princípios fundamentais da Constituição, ao sugerir a deportação da deputada do Livre, Joacine Katar Moreira.
Numa mensagem na rede social Facebook, Elza Pais afirma que "há limites para a tolerância".
"Já chega. O comentário de André Ventura à Joacine [Katar-Moreira] propondo que seja devolvida ao seu país de origem é inadmissível num Estado de Direito democrático por violar os princípios fundamentais da Constituição e da democracia", considerou.
Segundo Elza Pais, André Ventura fez "um comentário racista e sexista que não se pode tolerar".
"É um atentado à dignidade de todas e de todos nós, à dignidade da pessoa humana. Absolutamente intolerável", escreveu.
[notícia atualizada às 20h30]