A resolução aprovada na sexta-feira no Conselho de Segurança da ONU "não responde às necessidades urgentes" na Faixa de Gaza, afirma a organização não-governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF)
"A resolução final é uma versão diluída do projeto original e contém apenas um vago apelo à ação para criar as condições para uma cessação sustentável das hostilidades", declarou a organização, em comunicado.
A diretora executiva da MSF nos Estados Unidos, Avril Benoît, afirmou que a resolução "fica muito aquém do que é necessário para resolver a crise em Gaza: um cessar-fogo imediato e sustentado".
"Esta resolução foi diluída ao ponto de o seu impacto na vida dos civis em Gaza ser quase negligenciável", acrescentou.
O Conselho de Segurança aprovou, após uma semana de intensas negociações e de adiamentos sucessivos, uma resolução exigindo o envio para Gaza de ajuda humanitária "em grande escala".
"É incompreensível que, no meio de uma catástrofe humanitária absoluta, em que cada minuto conta, o Conselho de Segurança das Nações Unidas tenha passado dias em desacordo sobre algo que deveria ter sido posto em prática desde o início desta crise: garantir o rápido fluxo de ajuda humanitária para Gaza e a prestação segura e desimpedida de assistência dentro de Gaza", lamentou Benoît.
A resolução, com caráter jurídico vinculativo e apresentada pelos Emirados Árabes Unidos, teve de ser reescrita várias vezes ao longo da semana devido a objeções dos Estados Unidos, que têm poder de veto no organismo e que o exerceram em anteriores votações.
Washington absteve-se, assim como a Rússia (também com poder de veto), permitindo a passagem com 13 votos favoráveis da resolução, que ao contrário das primeiras versões não apela a um cessar-fogo imediato.
O texto pede ao secretário-geral da ONU, António Guterres, que designe um coordenador especial para monitorizar e verificar o envio de ajuda humanitária ao enclave palestiniano.
Após a aprovação da resolução, Guterres afirmou que o "verdadeiro problema" do envio de ajuda humanitária para Gaza é a "forma como Israel conduz a ofensiva" neste enclave palestiniano.
"Um cessar-fogo humanitário é a única maneira de começar a responder às necessidades desesperadas da população de Gaza e pôr fim ao pesadelo que ela vive", acrescentou o português.
O Governo do movimento islamita palestiniano Hamas, no poder na Faixa de Gaza desde 2007, anunciou na quarta-feira que as operações militares israelitas fizeram mais de 20 mil mortos no enclave desde o início da guerra, a 07 de outubro, contabilizando também 52.600 feridos.
Israel declarou guerra ao Hamas, em retaliação ao ataque de 07 de outubro perpetrado pelo grupo em território israelita, que fez 1.139 mortos, na maioria civis, de acordo com o mais recente balanço das autoridades israelitas.
Cerca de 250 pessoas foram também sequestradas nesse dia e levadas para Gaza, 128 das quais se encontram ainda em cativeiro pelo movimento, considerado uma organização terrorista pela União Europeia, pelos Estados Unidos e por Israel.