O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, agradeceu o "gesto cívico e humano" do sem-abrigo que na terça-feira encontrou um recém-nascido num caixote do lixo, em Lisboa, o que fez pessoalmente ao final do dia.
À saída da cimeira Web Summit, o chefe de Estado tinha admitido a possibilidade de estar com o sem-abrigo, para agradecer "aquilo que foi um gesto, mais do que cívico, humano", o que acabou por se concretizar pouco depois.
"Quando ele andava à procura de meios de sobrevivência salvou uma vida. Por isso é que eu falei nas desigualdades", declarou Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas.
"Este mundo tecnológico às vezes é de tal maneira que eu passeio por Lisboa muito, a pé, e encontro numa esplanada a jovem geração desta onda tecnológica a comer e a beber e tem de se pedir licença para passar, para chegar a um sem-abrigo que está abrigado atrás, com uma grande indiferença dos que ali estão, porque encontrou um canto de uma porta para poder dormir. E é essa indiferença que não pode existir", afirmou.
Já no encontro com o sem-abrigo, noticiado pela CMTV, Marcelo Rebelo de Sousa referiu-se a este homem como "o nosso herói".
O sem-abrigo, de 44 anos, adiantou que ouviu um barulho "estranho", parou, mas não viu nada, tendo continuado o seu percurso, mas acabou por voltar para trás por continuar a ouvir o barulho.
"Ele [bebé] tinha o cordão umbilical, estava muito gelado", declarou, referindo que as pessoas pensavam que "estava a vandalizar o caixote do lixo".
Para Marcelo Rebelo de Sousa, "foi uma felicidade". E, continuando a falar com o sem-abrigo, declarou-lhe que "é uma vida que pode ter salvo".
Um recém-nascido foi encontrado na terça-feira interior de um caixote do lixo em Lisboa, tendo sido transportado com vida para o Hospital D. Estefânia, disse à Lusa fonte da Polícia de Segurança Pública (PSP).
Hoje, à tarde o responsável pela unidade de cuidados intensivos neonatais do Hospital Dona Estefânia, Daniel Virella, afirmou que "é um bebé saudável", pelo que, em termos clínicos, pode ter alta nas próximas 48 horas.
Segundo Daniel Virella, a alta do bebé depende da decisão do Estado para o acolher, nomeadamente da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ), reforçando que "clinicamente não há nada que impede de ter alta".
Após ter sido internado no polo de urgência de pediatria do Hospital Dona Estefânia, onde precisou de "cuidados quase mínimos", o recém-nascido foi transferido para a Maternidade Alfredo da Costa por "não carecer de cuidados complexos médicos e cirúrgicos".