A Rússia defendeu esta terça-feira, numa resposta à ONU, ser atualmente “impossível” retomar os acordos que permitiram a exportação de cereais ucranianos através do Mar Negro, insistindo que os compromissos com o lado russo não foram cumpridos.
“Infelizmente, atualmente, é impossível retomar esse acordo, porque não foi cumprido”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, na habitual conferência de imprensa diária, feita telefonicamente.
Peskov acrescentou que o secretário-geral da ONU, António Guterres, voltou a apresentar ao Presidente russo, Vladimir Putin, “uma espécie de plano de ação e a promessa de que a parte russa” dos acordos será um dia cumprida.
“O Presidente Putin disse claramente que a Rússia está pronta para retomar imediatamente o acordo assim que [os compromissos com o lado russo] forem cumpridos”, enfatizou Peskov.
Na segunda-feira, o secretário-geral da ONU exortou a Rússia a regressar ao acordo sobre a exportação de cereais pelo Mar Negro, argumentando que o protocolo é “fundamental para garantir a estabilidade no fornecimento e nos preços”.
“Peço à Federação Russa que retome a aplicação dos acordos do Mar Negro e exorto a comunidade internacional a permanecer unida neste esforço para encontrar soluções efetivas”, disse Guterres, na abertura, em Roma, da Cimeira das Nações Unidas sobre Sistemas Alimentares, encontro coorganizado pelo Governo italiano.
A capital italiana, sede de várias agências da ONU focadas no setor da alimentação (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura — FAO, Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola — IFAD e Programa Alimentar Mundial -WFP), acolhe esta semana a reunião para efetuar um balanço dos acordos alcançados há dois anos em Nova Iorque numa conferência sobre sistemas alimentares.
Na passada quarta-feira, Putin, assegurou que a Rússia está preparada para regressar ao acordo sobre a exportação de cereais ucranianos — que suspendeu a 17 de julho ao considerar que os seus envios de produtos agrícolas e de fertilizantes estão bloqueados pelas sanções ocidentais — caso as suas exigências sejam concretizadas “na totalidade”, e sem as quais o prolongamento do pacto “deixa de ter sentido”.
As exigências da Rússia incluem a reintegração do seu banco agrícola, Rosselkhozbank, no sistema bancário internacional SWIFT, o levantamento das sanções sobre as peças sobresselentes para a maquinaria agrícola, o desbloqueamento da logística de transportes e dos seguros e o descongelamento de ativos.
As autoridades russas pretendem ainda a reabertura do oleoduto Togliatti-Odessa, destinado à exportação de amoníaco, componente decisivo para os fertilizantes russos. Esta estrutura, fora de serviço desde o início do conflito em curso na Ucrânia, foi danificada por uma explosão a 05 de junho, ação que Moscovo atribuiu a Kiev.
Assinados no verão de 2022 em Istambul pela Ucrânia e pela Rússia, sob a mediação da ONU e da Turquia, os acordos abrangem os cereais ucranianos e a exportação de fertilizantes e de produtos alimentares russos.
Segundo dados das Nações Unidas, desde que o acordo entrou em vigor, perto de 33 milhões de toneladas de cereais foram escoados a partir dos portos do sul da Ucrânia.
A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro do ano passado, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).