Dos 109 anos do Theatro Circo, 54 são dela. Maria Esteves entrou pela primeira vez para trabalhar da sala de espetáculos bracarense aos 17 anos. Com 72 feitos há poucos dias, ainda por aqui anda. Apesar de reformada, continua a ser uma das caras da bilheteira e fá-lo “por gosto”.
Maria entrou para o Theatro no último ano da década de 60. "Havia poucos espetáculos”, recorda. “Era uma vida de cinema."
Cinco anos depois, acontecia a revolução de abril e a “mudança foi muito grande”, recorda.
“Tivemos a liberdade de passar outro tipo de filmes. Era o máximo porque as pessoas vinham atrás das cenas mais picantes”, diz com um sorriso envergonhado.
“Tínhamos sempre a casa cheia. Ao domingo, pegava no dinheiro e colocava-o no caixote do lixo. A caixa registadora já não dava vazão”, conta.
Mas, o que mais marcou Maria Esteves foram mesmo os comícios políticos da época.
“Era tanta gente que até tinha medo de que o Theatro caísse. Mas todos entravam. Não havia diferença entre os partidos. Eram todos iguais”, garante.
A mais antiga sala de espetáculos de Braga continua a receber os políticos, o cinema e os artistas do teatro, da dança e da música e a encher-se de público para consolo de Maria.
“O que adoro é entrar na sala com o Theatro cheio. Consolo-me toda de ver aquela sala cheia porque ela é tão bonita, mas com público e com um espetáculo é maravilhosa”, remata.Festa com programa “agregador, inclusivo e acessível”
Quando completa 109 anos, a mais antiga sala de espetáculos de Braga quer ser um lugar para todos. Esse é o objetivo, assume o diretor artístico, Luis Fernandes.
“Braga é uma cidade em transformação, em ebulição em que a sua própria demografia está a ser alterada. É fundamental que estruturas, como o teatro circo, acompanhem e adequem o seu discurso para todos estes públicos”, defende.
“Toda a gente é potencialmente público do teatro. É esse o caminho que temos de trilhar sem facilitismo, mas de forma séria”, acrescenta o programador que refere como exemplo um recente projeto do Theatro Circo com a comunidade migrante
E é a pensar nos diferente públicos que o equipamento cultural prepara a festa de aniversário. A festa, desta vez, com “um a formato diferente” que se prolonga por dois dias com um programa que pretender ser “agregador, inclusivo e acessível”, sublinha.
“É importante também salientar que todas as atividades são de entrada gratuita”, refere o responsável. “A exceção são os dois espetáculos da sala principal com um custo simbólico de cinco euros”, sublinha. “Tirando isso, tudo é gratuito”.
O programa arranca esta sexta-feira com o espetáculo de dança Bate Fado da dupla Jonas & Lander e prossegue no sábado com o concerto de Bruno Pernadas. Nos dois dias de festa há espaço para atividades para os mais novos, um concerto de música de câmara pelos alunos da Universidade do Minho e termina ao som da DJ Umafricana.