O presidente de Angola, João Lourenço, mostrou-se esta quinta-feira disponível para visitar Portugal em 2024, no 50.º aniversário do 25 de Abril, e a festejar em conjunto os 50 anos da independência do seu país, no ano seguinte.
"Com certeza que estou disponível, tudo depende da vontade das autoridades portuguesas. Se eu for convidado, irei com muito gosto", disse o Presidente angolano, numa entrevista conjunta à Lusa e ao Expresso, nas vésperas de receber, em Luanda, o primeiro-ministro português, António Costa.
João Lourenço disponibilizou-se igualmente a convidar o Chefe de Estado português a visitar Luanda para uma celebração conjunta dos 50 anos da independência de Angola, que se assinala a 11 de Novembro de 2025.
"Ainda não tinha pensado nisso, porque penso ser sério, ainda faltam dois anos, mas nos 50 anos terei muito gosto em convidar o chefe de Estado português", afirmou.
O presidente angolano, João Lourenço, gaba o estado das relações com Portugal nas vésperas de receber o primeiro-ministro português e apela a um maior investimento das empresas portuguesas para diversificar a economia do seu país.
Dizendo esperar da visita de António Costa, entre 5 e 6 de junho, "o reforço das relações de amizade e de cooperação económica entre os dois países", João Lourenço vê no aumento de uma linha de crédito para investimento um incentivo à deslocação das empresas, que incluiu nos aspetos da "mobilidade económica".
Um dos acordos que será assinado em Luanda durante a visita de António Costa é precisamente o aumento da linha de financiamento de 1,5 mil milhões para 2 mil milhões de euros, negociado no início de abril numa visita do ministro das Finanças português, Fernando Medina.
Isabel dos Santos não é "rival política"
João Lourenço rejeitou acusações de perseguição política à empresária e filha mais velha do ex-presidente José Eduardo dos Santos e comentou o processo relativo a Manuel Vicente, aludindo ao caso de José Sócrates.
O presidente angolano considera que Isabel dos Santos é "apenas uma" entre vários cidadãos a contas com a justiça e não é sua rival, rejeitando acusações de perseguição política.
"Não a vejo como minha rival política. Perseguição política? Persegue-se um opositor e os opositores do MPLA são conhecidos", afirma o chefe do executivo angolano.
O chefe do executivo angolano refuta alegações de perseguição política, como se tem queixado a empresária, salientando que há muitos cidadãos que estão a braços com a justiça e o caso de Isabel "é apenas mais um".
Quanto ao processo relativo ao ex-vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, João Lourenço realça que se tratou de "um caso de soberania" e que não foi Angola que provocou o que ficou conhecido como "irritante" entre os dois países.
"Foram as autoridades judiciais portuguesas que entenderam levar à barra dos tribunais [portugueses] um governante daquela craveira. Não estou a imaginar Angola a ter a ousadia, por exemplo, de levar a tribunal um José Sócrates se, eventualmente, ele tivesse cometido algum crime em Angola. Felizmente, o desfecho foi bom (...) se tivesse demorado mais tempo talvez tivesse deixado mazelas, mas devo garantir que não deixou nenhumas", comenta.
Angola contra a invasão na Ucrânia
O presidente angolano afirma ainda que o seu país está contra a invasão da Ucrânia e considera que não haverá vitória militar de qualquer das partes, pelo que é urgente realizar conversações, "antes que seja tarde".
Segundo o dirigente angolano, militar de formação, a "tendência de rearmamento da Ucrânia, que está no direito legítimo de se defender", não vai levar "necessariamente" a uma vitória militar sobre a Rússia, nem vice-versa.
"Antes que seja tarde, é preciso sentar à mesa de conversações", apela.
João Lourenço adverte que, se o sentido da guerra for para piorar, não é "utópico" o risco de uma confrontação nuclear: "e, aí, não será entre a Rússia e Ucrânia, será entre as grandes potências".
Para o chefe de Estado angolano, a iniciativa dessas negociações deve caber aos líderes dos dois países, Vladimir Putin e Vladimir Zelensky, mas os Estados Unidos e a China poderão encorajar essa ação.