Paul Krugman em entrevista: “Trump não representa a verdadeira América”
04-05-2016 - 18:00
 • Paulo Ribeiro Pinto (Renascença) e Nuno Aguiar (Jornal de Negócios). Imagem: Inês Rocha (Renascença) e Catarina Rodrigues (Jornal de Negócios)

“Seria bastante inspirador se Hillary Clinton chegar à Casa Branca”, diz o Nobel da Economia em entrevista à Renascença/Jornal de Negócios.

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Diz que o Partido Republicano vive tempos de delírio. Em Bernie Sanders vê alguém que tende para as "respostas fáceis”. O Nobel da Economia em 2008 espera ver Hillary Clinton no lugar que é hoje ocupado por Barack Obama.

Em entrevista à Renascença e ao “Jornal de Negócios”, em Lisboa, o economista norte-americano Paul Krugman diz que Hillary daria o “Presidente mais progressista dos últimos tempos”.

É um fervoroso apoiante de Hillary Clinton. É a pessoa certa para a Casa Branca?

Hillary é sensível e bem informada. Dadas as restantes alternativas, ter alguém na Casa Branca que é, pessoalmente, muito dura sob pressão...

… mas não parece muito entusiasmado.

Eu não sou um romântico no que à política diz respeito. Por exemplo, Obama. Muitas pessoas diziam que era razoável, o que aconteceu ao entusiasmo? O facto é que 20 milhões de pessoas conseguiram acesso a um seguro de saúde, tivemos uma reforma do sistema financeiro, demos importantes passos sobre as alterações climáticas. Julgo que seria bastante inspirador se Hillary Clinton chegar à Casa Branca. Teremos a primeira mulher e, de facto, o Presidente mais progressista dos últimos tempos.

No campo democrata está-se a virar à esquerda. E no republicano?

O Partido Republicano... enfim... Está a entrar na “twilight zone”... De facto, o Partido Republicano está a virar à direita! Até os candidatos que supostamente são moderados, estão extremamente encostados à direita! Estão muito mais à direita de George W. Bush. Se algum republicano ganhasse a nomeação e chegasse veríamos uma guinada à direita! Temos alguém que é absolutamente imprevisível do lado republicano, que acredito que não irá vencer. Os democratas estão a virar ligeiramente à esquerda.

Como é que se explica o "fenómeno" Trump? Na Europa é difícil perceber.

Na Europa - não em Portugal – também têm este tipo de fenómenos. Em França têm [Marine] Le Pen, na Áustria, com as eleições presidenciais, vemos o mesmo tipo de forças. Nos EUA, devido à especificidade das nossas instituições, temos um sistema bipartidário em que 40% dos eleitores das primárias de um partido pode escolher um candidato acabando por produzir um forte candidato presidencial. Mas, na realidade, os EUA não são assim. Este tipo de forças estará sempre presente – forças que se incomodam com a evolução, com as pessoas que são diferentes... Não estou surpreendido. Está sempre presente nas nossas sociedades.

E essas forças estão sobre representadas nos media? A América não é aquilo?

Devido à polarização do sistema político, Trump vai conseguir uma grande votação. Mas as pessoas que apoiam Trump são uma minoria. Quando perguntamos "Quais os estados que estão mais próximos da média?" ou "Que estado é o típico estado norte-americano?", a América assemelha-se ao estado de Nova Iorque (não à cidade), por isso, a noção de que Trump representa a verdadeira América não é real.

Bernie Sanders é considerado de esquerda na Europa. Já disse não ser grande fã da candidatura. É pelo receio de que possa ganhar a Clinton?

Em parte, sim! Mas, do ponto de vista Europeu, eu sou um homem de esquerda, mas também acredito no pragmatismo. Em termos políticos, Sanders tende para as "respostas fáceis". O programa económico é baseado em ilusões. Tal como a maior parte dos economistas de esquerda nos EUA, consigo ver os valores presentes no programa. Mas não tem em conta a realidade.