O fundador do Spotify revelou esta terça-feira que a empresa não tem planos para proibir música criada através de Inteligência Artificial (IA) na plataforma.
Em entrevista à BBC, Daniel Ek considerou que existem usos legítimos da tecnologia para criar música, como as ferramentas de auto-tune que “melhoram” as canções.
No entanto, Ek alerta que a Inteligência Artificial não deve ser usada para se fazer passar por artistas "humanos" sem o seu consentimento.
No início do ano, a plataforma já tinha removido algumas músicas que usavam vozes clonadas através da IA dos artistas Drake e The Weeknd. E esses não são casos únicos.
Uma rápida pesquisa nas redes sociais, como o TikTok ou o YouTube, mostra que a voz de vários cantores tem sido usada para gerar outras músicas nunca cantadas pelo artista, pelo menos na vida real.
De forma quase impercetível, é possível ouvir Frank Sinatra a cantar uma música de Miley Cyrus, Freddie Mercury a dar a voz à música “Eye of The Tiger” dos Survivor ou “My Heart Will Go on” de Céline Dion e a canção “Break My Heart”, de Dua Lipa, na voz de Michael Jackson.
Questionado sobre o desafio que a indústria enfrenta, o fundador de uma das maiores plataformas de streaming de música diz que é um momento “complicado” e que o tema da IA na música será provavelmente debatido por “muitos, muitos anos”.
Em maio, o Financial Times noticiou que milhares de faixas foram removidas do Spotify após a descoberta de que bots (um sistema de software que executa tarefas de forma automatizada e repetitivas), estavam a ser usados para aumentar artificialmente os números de streaming.
Fãs elogiam, artistas criticam
Os artistas têm-se manifestado cada vez mais contra a utilização da Inteligência Artificial na indústria da música.
À BBC, em agosto, o músico irlandês Hozier admitiu que consideraria entrar em greve devido à ameaça da IA à sua profissão. O autor da música “Take me to church” revelou que não ter a certeza se a tecnologia “atende à definição de arte”.
No panorama português, o cantor David Fonseca questiona a utilidade da IA, ao sublinhar que “não é uma ideia interessante” para quem cria música.
Por outro lado, Paul McCartney, dos Beatles, anunciou em junho que uma nova música da banda será lançada ainda este ano com recurso a Inteligência Artificial para tratar a voz de John Lennon.
Nos comentários das redes sociais, fãs elogiam cada vez mais a aposta do uso desta tecnologia para criar músicas de artistas com as vozes de outros, sobretudo no caso de artistas que já morreram.
“Caramba, isto é muito melhor do que praticamente qualquer outra “cover” de IA. Na verdade, parece como se fosse ele a cantar”. Eu nem sei como é que fazem isso parecer tão real”, pode ler-se nos comentários de um vídeo de Frank Sinatra ao som de “Flowers”, de Miley Cyrus.
“Há um aumento notável na qualidade das 'covers' ao longo do tempo, com menos deslizes ou erros aleatórios de IA”, escreve outro fã.
Já no vídeo que mostra Freddie Mercury a cantar a famosa música do filme Titanic, os fãs também elogiam, com um a dizer que “a IA pode trazer-nos de volta muitos artistas lendários”.
Ainda sem uma regulamentação definida, a Google já informou, em agosto, que a empresa tecnológica e a Universal Music estão a negociar uma parceria para licenciar música produzida através de Inteligência Artificial.