Um estudo do Movimento Saúde em Dia, que integra médicos e administradores hospitalares, confirma um cenário de adiamento em massa ao longo da pandemia. Entre 2020 e 2021, ficaram por realizar 14 milhões de consultas em centros de saúde, 2,8 milhões de contactos nos hospitais, o que inclui consultas, cirurgias e urgências, e 30 milhões de exames.
Uma das consequências foi que milhares de casos de cancro ficaram por diagnosticar, como aponta o bastonário da Ordem dos Médicos.
“Em sete mulheres que ficaram por diagnosticar, uma tem cancro da mama, ou seja, há mulheres que têm cancro e nós não sabemos quem são. No caso do cancro do colo do útero, é uma em cinco mulheres... ainda é pior”, contabiliza Miguel Guimarães.
Segundo o bastonário, “há mulheres que andam aí, que têm um cancro do colo do útero, mas não estão diagnosticadas porque não houve rastreios durante muito tempo. E foram milhares, foram mais de 450 mil pessoas que não fizeram rastreio. E no cancro do cólon e reto, é uma em cada seis. Portanto, é uma situação que nos deve preocupar a todos”.
Por isso, defende um plano de recuperação do que ficou por fazer na Saúde, sublinhando que não basta que a atividade na saúde regresse aos níveis anteriores à pandemia.
“Números são assustadores”
“Atenção, que 2020 foi um ano em que ficou imensa coisa para fazer. Os números são verdadeiramente assustadores. Em termos de meios complementares de diagnóstico e terapêutica ficaram por fazer cerca de 30 milhões de exames. Ora, isto significa milhares e milhares de diagnósticos, já não vamos dizer milhões, por fazer.”
O
estudo indica ainda que a maioria dos portugueses destacam a vantagem de ter
médicos de família, mas criticam o tempo de espera para ter consulta e a
dificuldade em contactar o centro de saúde. Uma realidade ligada à falta de
profissionais.
A situação, defende o bastonário da Ordem dos Médicos, exige uma ação rápida e uma colaboração do SNS com os setores privado e social, mas teme que a crise política distraia o Executivo e partidos do essencial.
“O Governo continua a funcionar e há áreas que são áreas urgentes de atuação que, na minha opinião, não devem parar. Agora, a crise política distrai as pessoas, a crise política concentra as pessoas nas eleições e, portanto, neste momento, diria que a maior parte dos partidos está mais preocupada com as eleições do que com o resto”, conclui.