O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, acredita que subir os salários até à taxa de 2%, a meta de inflação do banco central, acompanhada por ganhos de produtividade não gera pressões inflacionistas, apesar de manter recomendação de cautela sobre as negociações salariais.
A posição do responsável do supervisor bancário português, Mário Centeno, foi transmitida hoje na conferência de imprensa de apresentação do boletim económico de junho, quando questionado sobre o tema.
"Não geram pressões inflacionistas subidas de salários, que sejam no máximo em termos nominais idênticas ao nosso objetivo de inflação no médio prazo, idealmente acrescidos de ganhos de produtividade", disse, apontando que o objetivo é que a inflação cresça 2% no médio prazo.
Para Centeno, "se esta regra for cumprida, não há razão para que efeitos de segunda ordem se façam sentir".
Contudo, o governador do BdP salientou que esta é uma resposta "analiticamente correta", que "depois pode não ter tradução política do ponto de vista das negociações concretas".
Mário Centeno ainda assim reiterou o pedido de "cautela" para atualizações salariais à taxa de inflação estimada para este ano, defendendo ainda que "aquilo que é a negociação salarial e a dinâmica da economia na criação de emprego têm proporcionado uma dinâmica de crescimento do rendimento disponível real".
Em maio, o governador já tinha defendido que "neste momento é importante ter muita cautela na avaliação daquilo que são as atualizações salariais", considerando que "não é uma matéria apenas para um semestre ou para um ano".
A subida dos salários tem sido reivindicada pelos sindicatos para fazer face à perda do poder de compra, devido ao aumento dos preços.
No entanto, no que toca a aumentos salariais intercalares dos funcionários públicos em 2022 para fazer face à escalada dos preços, o ministro das Finanças, Fernando Medina, defendeu, em abril, que essa decisão poderia agravar a inflação.
Também durante a conferência de imprensa de apresentação da proposta de OE2022, quando questionado sobre a possibilidade de aumentos salariais, o ministro das Finanças considerou que "seria um erro de grandes dimensões" alimentar a inflação através de "um motor interno".
Recentemente, defendeu o reforço da negociação coletiva para que haja ajustamento dos salários nominais ao crescimento dos preços.
Quando questionado hoje sobre a possibilidade de incumprimento pelas famílias nas prestações de crédito, Mário Centeno disse também hoje que o risco num contexto de subida de taxas de juro "é mais preocupante se vier acompanhado de subida do desemprego, coisa que não tem acontecido".
"Não vemos nenhum sinal de preocupação no sistema bancário", acrescentou.
O Banco de Portugal (BdP) prevê que a inflação suba para 5,9% este ano, igualando o cenário anteriormente considerado adverso e acima dos 4% do cenário-base de março, antes de cair para 2,7% em 2023 e 2% em 2024.
No Boletim Económico de junho, hoje divulgado, o BdP explica que "o aumento recente da inflação reflete sobretudo pressões externas", assinalando que, mesmo excluindo energéticos, o deflator das importações de bens deverá apresentar uma taxa de crescimento próxima de 11% em 2022, desacelerando para cerca de 1,8% em média em 2023-24.
"A tendência ascendente dos preços externos - iniciada em 2021 com o impacto da recuperação rápida da procura global e reação mais lenta da oferta - acentuou-se com a invasão russa da Ucrânia", refere o documento, que alerta para este impacto nomeadamente nos produtos energéticos e alimentares.