O Presidente da República dramatizou esta terça-feira uma eventual saída do Reino Unido da União Europeia (UE), considerando que seria “uma tentação para os extremismos” e salientando a importância dos britânicos como contraponto ao eixo franco-alemão.
“A falta do nosso mais velho aliado, a segunda mais poderosa economia da Europa, poderia ter graves consequências”, declarou Marcelo Rebelo de Sousa, numa conferência sobre os 30 anos da adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE), na Sala do Senado da Assembleia da República.
Segundo o chefe de Estado, “para além de diminuir a alma europeia”, a saída do Reino Unido da UE “seria também uma tentação para os extremismos que espreitam um pouco por todo o lado, e que não hesitarão em usá-lo como semente de novas divisões e alimento de nacionalismos radicais”.
“Não custa reconhecer que o Reino Unido é uma peça fundamental desta união de povos a que Portugal pertence, uma espécie de fiel da balança no jogo do poder, mesmo quando aparece como excêntrico a esse jogo, contraponto tantas vezes eficaz e oportuno ao mero concerto continental, e complemento da tradicional preponderância do eixo franco-alemão na condução dos destinos da integração União Europeia”, referiu.
Contudo, Marcelo Rebelo de Sousa reiterou que está optimista em relação ao resultado do referendo desta quinta-feira.
“Persisto na convicção de que o desfecho da votação será favorável à permanência do Reino Unido no seio da UE e, em qualquer caso, que esse referendo servirá para acordar a UE do seu torpor complexado, temeroso e inconsequente, um torpor que tem dominado os últimos anos da vivência comunitária”, afirmou.
Nesta intervenção, o Presidente da República realçou que o projecto europeu “interrompeu de facto o estado de guerra activa ou em suspenso em que a Europa sempre viveu” e, no caso da adesão Portugal, sustentou que “no essencial” o país mudou para melhor nos últimos 30 anos.
Porém, em relação a Portugal, referiu que “houve um forte recuo” do nível de vida “nos últimos anos de crise” e realçou o aumento da emigração e o número de contratados a prazo, que apontou como “sinal dos tempos, sem dúvida, mas sinal também de alerta a ter em conta pelos responsáveis políticos”.
Em termos gerais, considerou que “há um espírito de descrença”, com “desilusões ou falhas na integração europeia que minam a confiança no projecto europeu”.
O Presidente da República mencionou “a desilusão com muitos dos efeitos da adopção do euro” e também “a clivagem entre países, as quebras de solidariedade, o confidencialismo crónico”.
“Consequentemente, para muitos cidadãos europeus, esta Europa do euro e de Schengen não garante nem prosperidade nem segurança. E pedem, à luz de populismos, de radicalismos, de nacionalismos, mais proteccionismo, reclamam o fim da zona euro e de Schengen, nalguns países encara-se o referendo britânico como um prenúncio possível de atitudes similares, os refugiados nem sempre são bem aceites”, advertiu.
Marcelo Rebelo de Sousa acrescentou que “os tais radicalismos, os tais populismos, as tais xenofobias pululam, os sistemas partidários vigentes em vários estados entraram em crise, as famílias políticas que construíram a Europa conhecem vicissitudes e questões e contestações vindas de vários lados”.
Afirmando-se um “europeísta incorrigível”, o chefe de Estado terminou o seu discurso defendendo que “não é seguramente o regresso à segurança das fronteiras nacionais que protegerá os europeus ou os portugueses” e que “não há alternativas credíveis” ao projecto europeu.
“Acredito no futuro de Portugal na Europa e com a Europa. Não podemos voltar para trás, porque para trás não há caminho”, rematou.