"Isto é uma coisa de paixão", é como Bernardo Majer descreve a sua relação com a Banda Desenhada.
Coincidência ou não, nasceu em 1990, o mesmo ano em que o Amadora BD abriu portas pela primeira vez. É designer gráfico de dia e à noite cria banda desenhada no seu quarto.
À Renascença, conta que já no secundário escrevia no seu blogue, mas que foi em 2012 que entrou no mundo da BD. Nessa altura, começou a participar em concursos amadores, dando a conhecer o seu trabalho.
No ano passado, ganhou o prémio para Melhor Obra de Banda Desenhada de Autor Português no Amadora BD. Este ano, estreia a sua primeira exposição a solo, "Estes Dias", baseada no livro do mesmo nome que escreveu "no quarto" e que conta "seis histórias do quotidiano, de pessoas normais", descreve Majer. "Agora, é sobre isto que me interessa falar."
O "tempo" está muito presente no livro e nas paredes da exposição, com ampulhetas a decorar o espaço. Bernardo confessa que esta temática surgiu de forma espontânea e que só mais tarde percebeu que todas as histórias retratavam a passagem do tempo, como o envelhecer, mesmo que ainda se seja jovem.
Admite que gosta de escrever sobre aquilo que conhece, sejam pensamentos seus ou algo que surja numa conversa com amigos.
O livro demorou dois anos a completar. Para Bernardo, o processo criativo é muito mental. Começa por imaginar uma personagem, a sua história e o cenário, mas, em primeiro lugar, pensa numa narrativa antes de começar a desenhar. Transpõe para as notas do seu telemóvel as ideias e os diálogos que vão surgindo.
Como o livro não tem separadores, o autor escolheu utilizar cores para definir cada ação e separar as histórias, além de cada cor se relacionar com o tema da ação. "Gosto de uma paleta cromática muito reduzida, acho que dá mais espaço para outras coisas, que, para mim, são mais importantes na ilustração."
Majer admite escrever sempre muitos diálogos, mas em "Estes Dias" há algumas páginas sem eles. Para o autor, isto permite "alterar o ritmo da leitura e que o leitor fique um pouco mais perdido e, às vezes, isso é de propósito".
Quando as páginas do seu livro estavam finalmente expostas nas paredes do Amadora BD e toda a cenografia estava no seu lugar, Bernardo não escondeu a alegria. Até admitiu sentir-se "constrangido", porque o livro que fez "em casa, no computador, sozinho", ganha agora vida com o apoio de várias pessoas.
Bernardo Majer considera que podia haver mais apoios para a Banda Desenhada e refere, à Renascença, que é importante "perceber que há um público para livros e cultura no geral e que a banda desenhada pode ser uma dessas opções".
Apesar do pouco retorno financeiro, Majer diz ser "gratificante" ver tantas crianças a explorar esta nona arte: "Ver miúdos que aparecem aqui nos autógrafos, como eu também aparecia, é engraçado... as coisas dão a volta, é um ciclo que se fecha."
O Amadora BD está patente no antigo Ski Skate Park da Amadora até ao dia 29 de outubro. Até lá, pode visitar "Estes Dias" e outras exposições, como as que assinalam os 85 anos do Super-Homem, os 60 da Turma da Mónica e os 45 do Garfield. Há também exposições na Galeria Municipal Artur Bual e na Bedeteca da Amadora para explorar durante o certame.