João Leão otimista, Comissão Europeia mais prudente
22-05-2021 - 15:17
 • Sandra Afonso

Vice-presidente da Comissão diz que cláusula travão vai continuar suspensa em 2022, mas não em 2023.

Os ministros das Finanças da União Europeia contam ter primeiros planos de resiliência aprovados no próximo mês de forma a dar prioridade à recuperação e incentivar o investimento. Na reunião do Ecofin, que terminou este sábado em Lisboa, os ministros sinalizaram que o processo está bem encaminhado.

“Queremos ainda no mês ter os primeiros planos de recuperação e resiliência aprovados para que comecem a ter efeito nas nossas economias”, afirmou o ministro das Finanças português, João Leão, na conferência de imprensa final.

Neste momento, faltam apenas 5 países ratificar a decisão de recursos próprio que é necessária para o processo avançar, mas Leão manifestou otimismo ao dizer que acredita que é possível ter esse processo concluído “até ao final de maio”.

Contudo, o Ministro das Finanças português que presidiu ao Ecofin acabou por ser corrigido pelo vice-presidente executivo da Comissão Europeia, Valdis Dombrovskis, que admite "acelerar” a análise dos Planos nacionais de Recuperação e Resiliência, mas não garante rapidez.

“Sabemos que os estados-membros estão ansiosos por receber o pré-financiamento o mais rápido possível. Estamos a trabalhar na Comissão Europeia o mais rápido que conseguimos, mas são avaliações complexas, queremos fazer tudo bem. Nos próximos dois meses vamos tentar acelerar os trabalhos, mas o Concelho também precisa de um mês para avaliar”, avisou Dombrovskis.

Também sobre a suspensão das regras orçamentais, o vice-presidente da Comissão foi cauteloso, não garantindo que continuam suspensas para lá de 2022.

“Com base nas previsões de primavera, podemos confirmar que mantemos a cláusula travão em 2022, mas não vai até 2023”, afirmou o responsável no executivo europeu. “Tudo indica que vamos manter também para o ano a suspensão das regras orçamentais para garantir que nos próximos anos mantemos a enfase na recuperação”, tinha já dito João Leão.

Um assunto que deve ser discutido numa cimeira de alto nível anunciada por João Leão para o final do mês, para discutir o pós-recuperação.

Os ministros das Finanças estão otimistas e já acreditam num crescimento de mais de 9 por cento, entre 2021 e 2022:

“Estamos numa fase de viragem na Europa. Há sinais muito importantes que se estão a materializar: o plano de vacinação está a avançar, o número de casos está a diminuir. As atividades económicas estão a ser abertas por toda a europa e temos expectativas muito boas sobre a recuperação da economia neste e no próximo ano. Esperamos que no conjunto da Europa se possa crescer 9 por cento nestes dois anos. E muitos ministros deram mesmo sinais de que estas expetativas se possam tornar conservadoras e possamos crescer mais”, afirmou o ministro das Finanças.

Nesse caminho de recuperação, o Banco Central Europeu recomenda cautela na retirada de apoios. O vice-presidente do Banco Central Europeu. Luís de Guindos reafirmou o alerta deixado na véspera pela presidente Lagarde sobre o previsível aumento de insolvências.

“Os empréstimos que continuam sobre moratórias são os mais complicados e complexos, com menos qualidade. Daí a nossa recomendação, para que a retirada das medidas de apoio seja feita com cuidado e prudência, aconselhou De Guindos.

A pensar no médio longo prazo, o Ecofin debateu ainda as alterações climáticas e medidas fiscais de resposta. Segundo João Leão haverá um “mecanismo de ajustamento da fronteira” para garantir que ao ter uma política ambiental muito forte, a Europa não tenhamos apenas a transferir industrias poluentes para outras zonas, importando depois os seus efeitos.

Também haverá uma revisão da diretiva da energia para promover as indústrias menos poluentes e mais renováveis e será avaliada a diretiva e as taxas do IVA “de modo a favorecer as atividades menos poluentes”.