​A inflação abranda
04-03-2024 - 06:45

A firmeza do BCE na subida dos juros teria sido posta em causa se tivessem prevalecido os críticos de C. Lagarde. Notou-se nesses críticos uma certa insensibilidade social quanto aos efeitos da inflação, que prejudica sobretudo as pessoas com mais baixos rendimentos.

Segundo uma estimativa rápida do INE (Instituto Nacional de Estatística) em fevereiro deste ano a inflação no nosso país terá ficado em 2,1%, um pouco abaixo do número de janeiro. Recorde-se que a inflação em Portugal foi de 7,8% em 2022 e de 4,3% em 2023. Noutros países europeus, como Espanha, França e Alemanha, a tendência para a alta de preços abrandar também se faz sentir.

A taxa de inflação harmonizada no conjunto dos 20 países da moeda única foi de 2,6% em fevereiro, contra 2,8% em janeiro. A meta do Banco Central Europeu (BCE) é chegar a 2% - não parece estar longe. Mas ainda existem alguns obstáculos até se poder cantar vitória no combate à inflação. Por exemplo, a alta dos preços nos serviços ainda anda pelos 3,9% na zona euro. Por isso não é provável que na reunião do BCE da próxima quinta-feira seja decidida uma descida de juros.

Quando, em julho de 2022, começaram a subir os juros, Christine Lagarde, a presidente do BCE, foi muito criticada. Dizia-se, até, que esta alta de preços não era consequência de um excesso da procura sobre a oferta, pelo que subir juros não seria eficaz para travar a inflação.

Como sempre, os críticos do BCE não apresentaram qualquer proposta de política económica alternativa para combater a alta de preços. Talvez por causa de uma certa insensibilidade social quanto aos efeitos da inflação, que prejudica sobretudo as pessoas com mais baixos rendimentos.

Agora Christine Lagarde volta a ter razão ao recusar deitar para o lixo o esforço dos europeus, que suportaram os custos da subida dos juros do BCE. Trata-se de gerir expectativas; se a firmeza do BCE tivesse sido derrotada pelos que clamavam contra a subida dos juros certamente teríamos entre nós inflação alta durante longos anos. As expectativas dos agentes económicos, de consumidores a investidores, levariam a uma descrença generalizada na capacidade do BCE para travar a alta de preços. Felizmente que assim não aconteceu.