O Papa denunciou, esta quarta-feira, “a cultura do bem-estar, que nos leva a pensar em nós mesmos e nos torna insensíveis aos gritos dos outros”, palavras que usou exatamente há sete anos, durante a sua visita histórica a Lampedusa.
As palavras foram hoje proferidas na missa que assinalou os sete anos da visita, celebrada na capela da Casa Santa Marta, onde reside, na presença de um pequeno grupo de colaboradores.
O Papa lamentou que o drama dos migrantes continue a afligir o mundo, alertando para o risco de vivermos “em bolhas de sabão, que são belas, mas são nada, são ilusão do fútil, do provisório que leva à indiferença para com os outros e leva até á globalização da indiferença”.
Na homilia de hoje, Francisco recordou as palavras de Jesus relativas ao cuidado e atenção aos mais necessitados "Tudo o que fizerem… a mim o fizeram."(Mt 25,40), para deixar um alerta sobre o que se passa do outro lado do Mediterrâneo: “Penso na Líbia, nos campos de detenção, nos abusos e violências a que os migrantes estão sujeitos, nas viagens de esperança, nos resgates e nas rejeições.”
O Papa quis ainda recordar um episódio relacionado com a sua visita a Lampedusa: “Naquela ilha, alguns contaram-me a sua história e como sofreram para lá chegar. Tinham intérpretes. Um deles contava coisas terríveis na sua língua, mas o seu intérprete, que parecia traduzir bem, falava menos em relação ao que o outro me dizia… Quando regressei a casa, na recepção, havia uma senhora, filha de etíopes, que tinha seguido o encontro e ouvido a tradução. Ela disse-me: “aquilo que o tradutor lhe disse não é nem a quarta parte das torturas e sofrimentos que eles viveram”. Ou seja, comentou o Papa, “deram-me a versão “destilada”. E acrescentou: “Isto acontece hoje com a Líbia: dão-nos uma versão 'destilada' do que se passa. Sim, sabemos que a guerra é feia, mas não se imagina o inferno que ali se vive, naqueles campos de detenção. E esta gente só queria, com esperança, atravessar o mar.”
A homilia terminou com uma invocação à Virgem Maria, auxílio dos migrantes, para “que nos ajude a descobrir o rosto do seu Filho em todos os irmãos e irmãs obrigados a fugir das suas terras por tantas injustiças que ainda hoje afligem o nosso mundo.”