Cristãos rezam, este domingo, pela "superação da crise ecológica"
01-09-2019 - 11:01
 • Ana Lisboa

O que está em causa, neste Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, é "preservar a Obra de Deus e desenvolvê-la", diz o padre Duarte da Cunha, pároco na Igreja de Santa Joana Princesa, em Lisboa.

O Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação é assinalado este domingo. A data foi instituída pelo Papa em 2015 e é também comemorada há muito tempo pela Igreja Ortodoxa.

Após a recitação do Angelus, este domingo, Francisco fez referência a este dia de "oração ecuménica", que "anima a tomada de consciência e o empenho para tutelar a nossa casa comum a partir de um estilo de vida pessoal e familiar mais sustentável".

"De hoje até 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis, é um tempo favorável para o louvor de Deus por todas as suas criaturas e para assumir responsabilidades face ao grito da terra", disse o Papa, no Vaticano.

Com esta iniciativa, pretende-se que os cristãos deem o seu contributo para a “superação da crise ecológica” e que possam ser os “Guardiões da Criação” que cuidam da nossa “Casa Comum”.

Para o padre Duarte da Cunha, “temos esta responsabilidade, enquanto homens, de cuidar da natureza, de ser administradores". "Esta perceção de que existe uma cultura - João Paulo II chamava-lhe a cultura da morte – em que se destrói por destruir, em que os egoísmos e o materialismo reina. Então, é preciso um olhar que seja eticamente responsável, sabendo que aquilo que nós usamos e aquilo que nós fazemos tem consequências não só para nós, mas também para as próximas gerações”.

O pároco da Igreja de Santa Joana Princesa, em Lisboa, reconhece que o que está em causa é preservar a Obra de Deus, mas também desenvolvê-la. “Há aqui uma preocupação que o desenvolvimento tecnológico possa acontecer, mas tendo em conta os objetivos e tendo em conta a bondade e, portanto, um desenvolvimento que não seja uma destruição, mas seja um melhoramento cada vez maior”.

A mudança começa no estilo de vida de cada um de nós, nem que seja com gestos simples, pequenas ações. E também é fundamental promover a educação ambiental. O padre Duarte da Cunha defende que “há uma educação que deve partir não só do medo da destruição, mas também da contemplação do belo. O Papa diz, muitas vezes, que nós somos os que nos convertemos mais pela atração do belo. E a Criação deve ser olhada como beleza também”.

“Educar os jovens a contemplar a natureza, a darem louvor a Deus pela natureza é fundamental para se criar uma responsabilidade do cuidado da natureza”, diz.

Por isso, o apelo do Papa feito há quatro anos na Encíclica “Laudato Si”, está “muito atual”, no sentido de “unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral”.

Para o padre Duarte da Cunha, este desafio de Francisco “tem a ver com um chamamento também à consciência de que a Criação é um dom de Deus. E, portanto, se é um dom, é uma responsabilidade. E se é uma responsabilidade, nós não podemos usar e abusar, mas só compreenderemos isso se retomarmos a relação com o seu Criador”.

Amazónia no centro das preocupações

Sobre o que se está a passar com os incêndios na Amazónia, o Santo Padre já manifestou a sua preocupação. Francisco reconhece que os problemas nesta região têm um impacto global.

Trata-se de um desastre ecológico, admite este sacerdote, para quem “é péssimo quando, em vez das pessoas se preocuparem com a Amazónia, se preocupam com questões políticas e aproveitam a ocasião para atacar os regimes políticos”. “E julgo que este é um momento em que os políticos deveriam ser verdadeiramente solidários com a natureza e não entrarem em conflitos políticos, mas não e isso que se está a ver. Estamos a ver muito aproveitamento político, pró e contra o presidente do Brasil, que não sei se é esse o objetivo. O objetivo é cuidar”.

Recorde-se, que o Papa anunciou para o próximo mês de outubro um Sínodo especial sobre a Amazónia.

O encontro, que decorre de 6 a 27 de outubro, no Vaticano, vai refletir sobre o tema “Amazónia: Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”.

Recentemente, Francisco disse que este Sínodo é uma resposta da Igreja Católica a preocupações religiosas e ambientais, numa região decisiva para a sobrevivência da humanidade.

“Não é uma reunião de cientistas ou de políticos. Não é um parlamento: é outra coisa. Nasce da Igreja e terá missão e dimensão evangelizadora. Será um trabalho de comunhão conduzido pelo Espírito Santo”, explicou, em entrevista publicada pelo jornal italiano ‘La stampa’.

Igrejas cristãs unem-se em defesa do ambiente

As Igrejas Cristãs vão unir-se para um mês de oração e ação ecuménica em defesa do ambiente.

É a iniciativa “Tempo da Criação” que começa precisamente hoje, dia 1 de Setembro e prolonga-se até 4 de Outubro. Tem como tema “A rede da vida”.

O convite foi feito pelo Vaticano já em junho, pelo quarto aniversário da publicação da Encíclica do Papa, “Laudato Si”.

Trata-se de um projeto ecuménico global que “é uma ótima oportunidade para proteger a nossa Casa Comum, ser seus guardiães e desenvolver os seus dons”, assinala uma mensagem do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral.

Participam as Igrejas Católica e Ortodoxa, da Comunhão Anglicana, a Federação Luterana Mundial, o Conselho Mundial das Igrejas e a Aliança Evangélica Mundial.

A Santa Sé une-se, assim, ao Movimento Católico Mundial pelo Clima e à Rede Eclesial Pan-Amazónica, região que em outubro vai estar no centro de uma assembleia especial do Sínodo dos Bispos convocada pelo Papa Francisco.