O secretário-geral adjunto socialista disse esta quarta-feira que não surpreende o voto contra do PSD à proposta de Orçamento do Estado para 2021, considerando, no entanto, que Rui Rio "deixou cair" o valor do "interesse nacional”.
“Não sendo uma surpresa, não deixa de ser contraditório que Rui Rio, perante uma das maiores crises que se abateu sobre o mundo, sobre a Europa e sobre o nosso país, tenha, num momento tão crítico da vida nacional, deixado cair um valor que sempre afirmou querer defender: o valor do interesse nacional”, disse José Luís Carneiro, em declarações aos jornalistas na sede nacional do PS, no Largo do Rato, em Lisboa.
O presidente do PSD anunciou hoje o voto contra do partido na proposta de Orçamento do Estado para 2021 (OE2021), dizendo que esse é “o único voto coerente” e porque outra votação nem sequer “evitaria uma crise política”.
Rui Rio fez este anúncio no encerramento das jornadas parlamentares do PSD, que decorreram hoje na Assembleia da República.
“Não é o nosso orçamento, mas no interesse do país nós até nos poderíamos abster por causa da pandemia, por causa da presidência portuguesa que se inicia, porque o Presidente da República está com poderes diminuídos, nem sequer pode dissolver o parlamento, porque temos necessidade de recuperar a economia e otimiza as ajudas da União Europeia”, enumerou Rio, na reta final de um discurso de cerca de 45 minutos.
O líder do PSD apontou, no entanto, a razão pelo qual o partido não seguirá esse caminho da abstenção: “O primeiro-ministro disse que o seu projeto é com o PC e com o BE e que, no momento em que precisasse do PSD para aprovar o Orçamento, o seu Governo terminava nesse momento”, afirmou, citando uma recente entrevista de António Costa ao Expresso.
O secretário-geral adjunto do PS acrescentou que “não deixa de ser curioso que aqueles que na primeira fase da pandemia mais propostas apresentaram para reforçar o investimento público em determinados setores venham agora dizer que votam contra” a proposta de OE2021.
José Luís Carneiro sublinhou que “estar contra o Orçamento do Estado e esta proposta” significa “estar contra o reforço” do Serviço Nacional de Saúde (SNS), do sistema educativo nacional, do investimento nos transportes públicos, no investimento nas políticas de habitação e também é “estar contra as políticas que visam combater e erradicar a pobreza”.
O dirigente socialista disse ainda não estar surpreendido com o voto contra do PSD ao diploma, considerando que “quem está a favor do congelamento do salário mínimo nacional e do corte na despesa pública, seja contra” um orçamento “que recusa a austeridade”.
Questionado sobre se equaciona fazer daqui a algum tempo uma declaração semelhante, mas, desta vez, a reagir a um eventual voto contra do BE e o PCP, o secretário-geral adjunto socialista respondeu que “está feita a prova” de que este orçamento é “de esquerda e tem uma resposta à crise do país com políticas de esquerda”.
A uma semana da votação na generalidade, na Assembleia da República, o Governo ainda não tem garantida aprovação do Orçamento do Estado de 2021, estando em conversações com o BE, PCP, PEV e PAN.
O PCP admitiu hoje que “naturalmente” o voto favorável no Orçamento do Estado de 2021 está “mais distante” e insistiu que mantém todas as opções em aberto, como a abstenção e o voto contra.
Já o BE adiantou que, nas negociações orçamentais, o Governo recusou qualquer abertura para as propostas bloquistas sobre o Novo Banco e lei laboral, mas apresentou sugestões sobre SNS e prestação social, que estão a ser analisadas pelo partido.