Os bancos centrais podem voltar a ser a solução de último recurso. O aviso foi deixado na segunda-feira, em Sintra, na abertura de mais um Fórum do Banco Central Europeu.
Perante uma plateia de líderes e representantes de reguladores, da banca mundial e da alta finança, o professor Richard Portes, da London Business School, defendeu que a economia não corre risco sistémico. Ainda assim, os bancos centrais devem preparar-se para um pedido de intervenção urgente.
“Ainda não corremos esse risco, a situação não é a mesma de 2008, quando os bancos estavam severamente descapitalizados e os mercados congelaram, porque não sabiam em quem confiar. No entanto, vejo riscos, sobretudo para os bancos centrais”, alertou.
O professor da London Business School admitiu mesmo que “se estivesse no lugar dos supervisores, estaria preocupado com a possibilidade de ser novamente chamado para agir como solução de último recurso”.
O Fórum anual do BCE, interrompido nos dois últimos anos devido à pandemia, decorre em Sinta até quarta-feira. Conta com governadores de bancos centrais, académicos, economistas e representantes dos mercados financeiros.
Este ano as atenções vão estar viradas para a inflação, a crise energética, as taxas de juro e as implicações da guerra na Ucrânia no mercado internacional e no desenvolvimento económico global.
“A inflação mais alta, principalmente como resultado do aumento dos preços da energia, a escassez de oferta relacionada com pandemia e libertação da procura reprimida, criou um ambiente difícil e incerto para os bancos centrais a nível global. E a invasão da Ucrânia pela Rússia complicou ainda mais as perspetivas económicas, principalmente para a Europa”, destaca o BCE, na sua página dedicada à cimeira.
Esta terça-feira, o fórum arranca com um discurso de Lagarde, estando previstas uma sessão sobre globalização e mercado de trabalho, moderada pelo economista-chefe do BCE, Philip Lane, e por uma outra sobre a volatilidade dos preços da energia e um painel sobre o projeto do euro digital.
Já na quarta-feira, o vice-presidente do BCE, Luis de Guindos, irá moderar um debate sobre a política monetária e o boom do imobiliário, bem como uma sessão sobre as cadeias de valor globais, os constrangimentos no abastecimento e o comércio internacional.
Haverá ainda um painel sobre as expectativas de inflação na formulação de política monetária, moderada por Isabel Schnabel, membro do conselho executivo do BCE.
No mesmo dia pela tarde o ponto alto será o painel no qual irão participar além de Lagarde, o presidente da Reserva Federal norte-americana, Jerome Powell, o governador do Banco de Inglaterra, Andrew Bailey, e o diretor-geral do Banco de Pagamentos Internacionais, Agustín Carstens.