O degelo marinho está a matar milhares de crias de pinguins-imperadores na Antártida, segundo um estudo divulgado esta quinta-feira, que estima a quase extinção da espécie no fim do século a manter-se o ritmo atual do aquecimento global.
De acordo com o estudo, publicado na revista científica de acesso aberto Communications Earth & Environment, nenhuma cria nascida na primavera antártica de 2022 (de setembro a dezembro) sobreviveu em quatro das cinco colónias de pinguins-imperadores do mar Bellingshausen.
As crias (ainda sem penas impermeáveis) afogaram-se ou morreram de frio devido ao degelo marinho precoce causado pelo aquecimento do planeta, sustentam os autores do estudo.
As fêmeas de pinguim-imperador põem habitualmente os ovos de maio a junho (inverno antártico) depois de escolherem o local de reprodução no gelo, quase sempre o mesmo todos os anos, e após uma viagem de mais de 100 quilómetros com o seu parceiro.
A eclosão dos ovos ocorre dois meses depois, mas as crias só ganham penas entre dezembro e janeiro (verão antártico).
De acordo com a investigação, a cargo de cientistas do British Antarctic Survey, o insucesso reprodutivo completo é uma consequência direta da perda, sem precedentes, de gelo marinho registada na região devido às alterações climáticas.
As colónias de pinguins-imperadores necessitam normalmente de gelo estável entre abril e janeiro para assegurarem com êxito a reprodução e a muda (renovação das penas).
Qualquer alteração na extensão de gelo marinho na Antártida pode afetar a reprodução da espécie, uma vez que as crias não desenvolvem penas impermeáveis até estarem emplumadas.
Os cientistas usaram imagens de satélite, de 2018 a 2022, para monitorizar a presença de pinguins-imperadores nas colónias de Ilha Rothschild, Entrada Verdi, Ilha Smyley, Costa Bryan e Ponto Pfrogner durante a época de reprodução.
As colónias variam de tamanho, desde cerca de 630 casais de pinguins na Ilha Rothschild até perto de 3.500 casais na Ilha Smyley. Ambas as ilhas estão entre as maiores ilhas antárticas.
Nas colónias de Ilha Smyley, Entrada Verdi, Costa Bryan e Ponto Pfrogner nenhuma cria sobreviveu em 2022.
Segundo os autores do estudo, trata-se do primeiro falhanço reprodutivo de pinguins-imperadores observado na região nos últimos 13 anos.
Em 2022, a perda de gelo mais extrema foi observada na região central e oriental do mar de Bellingshausen em novembro, altura em que a camada de gelo desapareceu por completo.
Os autores estimam que, a manter-se o ritmo atual do aquecimento do planeta, a quase totalidade de pinguins-imperadores poderá desaparecer no fim do século.
O pinguim-imperador é uma espécie de ave marinha endémica da Antártida, onde em 2020 haveria cerca de 300 mil casais reprodutores.