O bispo de Matagalpa, na Nicarágua, D. Rolando Álvarez, vai mesmo a julgamento.
De acordo com o portal de notícias do Vaticano, o prelado foi indiciado esta terça-feira pelo crime de “conspiração contra a integridade nacional” e de “divulgar falsas notícias através das tecnologias de informação e comunicação em detrimento do Estado e a sociedade nicaraguense”.
A data para o início do julgamento ainda não foi revelada e até lá, por decisão do juiz do Tribunal de Manágua, o bispo vai manter-se em prisão domiciliária.
Segundo o Vaticano, D. Rolando Álvarez é o primeiro bispo a ser preso e acusado desde que o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, regressou ao poder, em 2007.
O bispo de Matagalpa foi detido na madrugada do dia 19 de agosto, quando a polícia da Nicarágua entrou no paço episcopal para o levar à força juntamente com alguns colaboradores – sacerdotes, diáconos, seminaristas e um leigo -, que ali se encontravam detidos desde 4 de agosto, sob a acusação de tentar “organizar grupos violentos” com o “objetivo de desestabilizar o Estado nicaraguense e atacar as autoridades constitucionais”.
D. Rolando Álvarez foi levado para a sua residência particular em Manágua sob prisão domiciliária e a polícia nicaraguense encaminhou os outros detidos para a Direção de Assistência Judiciária.
Várias conferências episcopais de todo o mundo, assim como organizações civis, expressaram solidariedade com a Igreja nicaraguense.
Também o Papa Francisco falou sobre a situação na Nicarágua no Angelus de domingo, 21 de agosto. “Estou acompanhando de perto com preocupação e dor a situação que surgiu na Nicarágua envolvendo pessoas e instituições”, disse na altura o Santo padre, expressando a sua convicção e esperança de que, “através de um diálogo aberto e sincero, ainda se possam encontrar as bases para uma coexistência respeitosa e pacífica”.
Por sua vez, o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, exprimiu a sua consternação com as ações do Governo da Nicarágua contra as organizações da sociedade civil, incluindo as da Igreja Católica.
As relações entre a Igreja Católica e o Governo Ortega deterioraram-se desde 2018, altura em que se verificaram protestos contínuos contra o Presidente Daniel Ortega e uma repressão subsequente por parte do Governo.
Ortega, classificou mesmo de “terroristas” os bispos nicaraguenses que atuaram como mediadores de um diálogo nacional que buscava uma solução pacífica para a crise que o país vive desde abril de 2018.
Além disso, os descreveu os bispos como “golpistas”, tendo-os acusado de serem cúmplices de forças internas e grupos internacionais que, em sua opinião, atuam na Nicarágua para o derrubar.
A Nicarágua vive uma crise política e social desde abril de 2018, que se acentuou após as polémicas eleições gerais de 7 de novembro de 2021, nas quais Ortega foi reeleito para um quinto mandato, o quarto consecutivo e o segundo com a esposa, Rosario Murillo, como vice-presidente, com seus principais opositores na prisão.