Alexandrino Biscaia, o pai da menina e separado da mãe de Jéssica desde outubro de 2021,disse hoje no tribunal de Setúbal que, depois da separação, só terá estado dois fins de semana com a filha, em janeiro e fevereiro de 2022, antes de emigrar para os Países Baixos.
"Depois da separação, a mãe [Inês Santos] não permitia que eu soubesse onde estava a residir com a menina e só a voltei a ver em janeiro de 2022", disse Alexandrino Biscaia.
O pai de Jéssica, Alexandrino Biscaia, admitiu que falou várias vezes com a filha por chamada telefónica ou por vídeo chamada quando já estava nos Países Baixos, mas garantiu que, a partir de "março de 2022", não voltou a falar com a pequena Jéssica.
"Eu confiava, mas era sempre engrupido pelas mentiras da Inês que dizia que a Jéssica estava doente, ou que estava no infantário ou na colónia de férias", disse Alexandrino Biscaia, admitindo que se sentia culpado pela morta da filha, por ter confiado na ex-companheira e mãe de Jéssica.
Questionado pelo presidente do coletivo de juízes sobre eventuais sinais de maus-tratos no ânus da menina, nas últimas vezes em que esteve com a filha, em janeiro e fevereiro de 2022, Alexandrino Biscaia disse que não tinha visto nada de estranho. Segundo o despacho de acusação, a menina não só terá sido vítima de maus-tratos muito violentos em diversas zonas do corpo, como também apresentava lesões no ânus, que terão sido provocadas por ter sido utilizada como correio de droga.
A avó paterna de Jéssica, Maria Lino, que também foi hoje
ouvida como testemunha, afirmou em tribunal que já não via a menina desde sete
ou oito meses antes da morte da criança e que, da última vez que a viu, foi por
um curto período de tempo, de menos de uma hora.
Hoje, foram também ouvidas pelo Tribunal de Setúbal mais duas testemunhas, uma delas animadora sociocultural que também vendia roupa a Inês Sanches e que disse ter ficado impressionada com a abertura das nádegas de Jéssica, em 12 de junho de 2022, quando esteve com a menina num parque infantil.
Segundo a acusação, a menina ficou retida durante cinco dias em casa de Ana Pinto, arguida no processo, para garantir o pagamento de uma dívida da mãe por atos de bruxaria.
A mãe, Inês Sanches, está acusada dos crimes de homicídio qualificado e de ofensas à integridade física qualificada, por omissão.
Ana Pinto, o marido, Justo Ribeiro Montes, e a filha, Esmeralda Pinto Montes, estão acusados de homicídio qualificado consumado, rapto, rapto agravado e coação agravada.
O julgamento prossegue a partir das 9h15 da próxima
quinta-feira, dia 15 de junho, no Tribunal de Setúbal.