Nicola Sturgeon anunciou a renúncia ao cargo de primeira-ministra da Escócia. Em conferência de imprensa, esta quarta-feira, a governante frisou a necessidade de um novo líder, capaz de consolidar o apoio popular ao projeto de independência para o país.
No início do discurso, Nicola Sturgeon começou por frisar a honra que teve em desempenhar "o melhor trabalho do mundo": "Um [privilégio] que me deu alento e me inspirou nos bons momentos e que me acompanhou nas horas mais duras dos meus dias mais duros".
A líder escocesa acrescentou ainda estar "orgulhosa" por ser a "primeira mulher [a liderar o Governo] e a governante que mais tempo esteve no no cargo". "Estou muito orgulhosa do que se alcançou ao longo dos anos em que estive na Bute House [residência oficial da primeira-ministra da Escócia]".
No entanto, Nicola Sturgeon sublinhou que, "desde o primeiro momento", estava ciente de que "servir bem também inclui, quase instintivamente, saber quando é o momento certo para dar o lugar a alguém". "Poderia parecer demasiado cedo na minha cabeça e no meu coração, mas eu sei que agora é o momento certo para mim, para o partido, para o meu país."
"Hoje, anúncio a minha intenção de renunciar ao cargo de primeira-ministra e líder do meu partido [Partido Nacional Escocês]."
"Sei que há pessoas que vão ficar tristes com a decisão. Mas claro, a equilibrar os pratos, também haverá outras que irão lidar minimamente bem com esta notícia. É essa a beleza da democracia", confessou Sturgeon.
A primeira-ministra demissionária, contudo, sublinhou que, "embora seja tentador ver dessa maneira", a decisão "não é fruto das pressões recentes" de que é alvo. "Claro que há matérias difíceis a confrontar o Governo, mas quando é que não há?"
"Já passei quase três décadas na linha da frente da política. Uma década e meia na primeira ou segunda instâncias governamentais. Se fosse só essa questão, da minha competência ou resiliência, eu não estaria aqui hoje."
Sturgeon reforça, assim que foi uma decisão resultante de uma "reflexão longa". "Sei que parece repentino, mas tenho estado a digladiar com isso durante algumas semanas."
"Estive a tentar responder a duas questões: Continuar será certo para mim? E, mais importante, será correto para o país, para o meu partido e para a causa independentista a que dediquei a minha vida?"
A ainda primeira-ministra diz que chegou à "difícil conclusão que não". E acusa o desgaste no poder: "Quando entrei no Governo, em 2007, a minha sobrinha e o meu sobrinho mais novo eram bebés, com apenas meses de idades. Agora, eles estão prestes a celebrar o seu 17.º aniversário".
"O meu ponto é o seguinte: dar tudo de ti neste trabalho é a única maneira de o fazer, o país não merece menos. Mas a verdade é que não pode ser feito por qualquer pessoa durante tanto tempo. Para mim, está em risco de ser há demasiado tempo."
Sturgeon explica também que "um primeiro-ministro nunca está fora do serviço", especialmente sob a "grande intensidade do discurso político moderno". "Até coisas ordinárias, como tomar um café com amigos ou dar um passeio a pé sozinhos tornam-se muito difíceis."
A governante confessa que ainda teria energia para os "próximos meses", mas que também tem "um dever para com o país": de "garantir que tenha uma liderança com a energia necessária".
Renovar a liderança para renovar a causa independentista
O mais recente bloqueio do referendo à independência da Escócia, por parte do Supremo Tribunal britânico, revelou-se um "momento crítico" para a necessidade de renovação da liderança do país e do Partido Nacional Escocês (SNP, na sigla inglesa), aponta Sturgeon.
"A minha vontade de usar as próximas eleições nacionais para um referendo ‘de facto’ é bem conhecida."
"Sondagens vêm e vão", mas a líder diz ter a "crença firme" de que "ainda que não existe um apoio maioritário à independência da Escócia". E para esse apoio crescer, será preciso "ultrapassar a divisão na política escocesa".
"A minha conclusão, agora, é que um novo líder será mais capaz para fazer isto. Alguém sobre quem ninguém tem uma ideia fixa. Alguém que não esteja sujeito às mesmas opiniões polarizadas, justas ou injustas, de que sou alvo."
Apesar das sondagens mais desfavoráveis nos últimos tempos, Sturgeon mostrou-se convicta de que o SNP continua a ser o partido em que os escoceses "mais depositam a sua confiança". "Estamos seguramente no caminho para a vitória nas próximas eleições."
A primeira-ministra demissionária informa que se manterá em funções até à nomeação do seu sucessor.
Sturgeon é primeira-ministra da Escócia desde novembro de 2014, altura em que assumiu o cargo depois do referendo para a independência, em que o "Não" venceu com mais de 55% dos votos.
[Notícia atualizada às 12h36 de 15 de fevereiro de 2023, com discurso de Nicola Sturgeon]