Imagine-se a França governada por Marine Le Pen. Paris isolada da Europa e a somar o Frexit ao Brexit. E a debitar medidas extraordinárias contra imigrantes, tendo por alvo, e por junto, o mundo muçulmano. Sem distinções nem preocupações de separar trigo do joio. Por causa de uma minoria, exercer violência sobre a maioria. Lidar com os pacíficos, como se fossem fanáticos. Indiferenciadamente, sem critério nem piedade.
Eis o cenário perfeito para todo o tipo de terrorismo. Semear o ódio aos quatro ventos. Juntar ao fanatismo perigoso de uma minoria, o sentimento de injustiça de uma enorme maioria.
Para os diferentes grupos terroristas, uma França assim (des)governada revelar-se-ia a sua melhor aliada.
E se for possível, já agora, desmantelar a União Europeia tanto melhor. A paz na Europa não serve os interesses do terrorismo.
Quem pretenda desestabilizar os países europeus, nada melhor do que suscitar a tomada de medidas que atinjam indiscriminadamente os milhões de muçulmanos que vivem pacificamente na Europa.
Com os seus defeitos e virtudes, aquilo que é hoje a União Europeia nasceu do desejo e da necessidade de paz, no rescaldo da II guerra mundial que teve o seu epicentro precisamente na Europa.
Ao longo das suas diferentes fases, a União Europeia enfrentou e venceu surtos terroristas. As brigadas vermelhas italianas, os baader-meinhof alemães, o terrorismo basco, o separatismo da Córsega constituem exemplos de violência que a cooperação e unidade dos países europeus ajudaram, em cada momento, a derrotar. Numa Europa dividida, a mortandade infligida por tais grupos teria sido ainda mais elevada. E o conflito irlandês e a guerra da Bósnia teriam tido, seguramente, expressões ainda mais gravosas.
Claro que a política externa europeia é frágil, até na área da Defesa, excessivamente dependente do chapéu-de-chuva norte-americano. Mas para combater o chamado terrorismo islâmico é necessário melhorar (e não eliminar) a Europa. E não basta a Europa: é indispensável uma cooperação internacional que extravase a União Europeia e que recolha aliados no próprio mundo islâmico.
O terrorismo internacional só pode ser derrotado numa ampla coligação mundial. Neste quadro, uma Europa dividida aumentará a probabilidade de sucesso de todo o tipo de conflitos e de operações terroristas.
Uma Europa enfraquecida fortalece nacionalismos, extremismos e fanatismos.
Objectivamente, o populismo (tenha ele a cor e a retórica que tiver) é o melhor aliado do terrorismo. E inversa também é verdadeira.
Quando, pela primeira vez, algumas sondagens apontavam para a eventualidade de Marine Le Pen não passar à segunda volta das eleições presidenciais francesas, o atentado terrorista de quinta-feira já teve como efeito a subida da candidata da Frente Nacional. Porque o medo é outro dos aliados queridos do terrorismo.
Entre o medo e a dignidade, os franceses estão a ser postos (duramente) à prova. O futuro da Europa também passa por eles, a partir deste domingo.